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Festival Salvador Capital Afro reúne especialistas do Afroturismo e do Movimento Black Money em segundo dia de evento

O Festival Salvador Capital Afro, em sua segunda edição, segue promovendo reflexões através de painéis, oficinas e rodadas de negócios. O talk sobre Afroturismo – Desafios e Oportunidades discutiu o cenário do mercado nacional para o segmento e contou com a expertise de Nilzete dos Santos, empresária pioneira do Afroturismo ao criar a Afrotours, e o empresário Paulo Bispo, fundador da Ebony Tours. Paulo Rogério, da Vale do Dendê, foi o mediador do encontro.

Bem-humorada, Nilzete afirmou que é conhecida como a rainha do Afroturismo por ser pioneira no ramo. “Eu criei o meu negócio em 2007. O meu despertar aconteceu quando eu percebi que o trade de turismo não acreditava no turismo de Salvador. Mas eu acreditava no potencial histórico dessa cidade. Na faculdade, eu pude conhecer grandes historiadores e comecei a estudar. Ali, eu recebi elementos para criar e viabilizar o meu negócio. Havia uma lacuna, e eu queria explorar isso. Assim, o meu primeiro pacote de viagem para Gana foi um sucesso. Eu também tive que fazer contato com as companhias aéreas. As pessoas diziam: ‘Ninguém quer ir para a África’. Mas o público queria sim, só não conseguia. Os professores queriam e precisavam ir pra lá, para estudar e se aperfeiçoar”, lembra Nilzete. Ela complementa: “O diferencial para quem quer trabalhar com turismo em Salvador é estudar. É preciso conhecer a nossa história, do contrário, o turista se sente enganado”.

Para Paulo Bispo, a parcela da população negra que não viaja, muitas vezes não é por falta de dinheiro, mas porque não se vê neste lugar. “Este fator dificulta muito o Movimento Black Money. Quando eu ia para os Estados Unidos, eu era o único negro no avião. Nem os comissários de bordo eram negros. Isso me incomodava. Quando eu fui à África, eu me senti em casa. Lá, a terra é nossa. Fui para Nova York, meu sonho era ver uma missa gospel. Fiz um tour pelo Harlem, no ônibus de turismo, e eu era o único negro. Ali, eu vi que era importante mudar esse cenário com a minha expertise. Acho muito importante a gente

saber se vender lá fora. Mostrar que Brasil é business, é cultura, é Afroturismo. Não somos só o Carnaval”.

Outro painel de peso envolveu Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta e da Preta Hub, Átila Lima, educadora financeira, Carlos Eduardo Dias Barbosa, do Banco Comunitário de Desenvolvimento Santa Luzia, Giovanni Harvey, do Fundo Baobá para Equidade Racial, e Mariana Araújo, coordenadora de sustentabilidade da Americanas S.A, com mediação de Ciça Pereira, da Afrotrampos. O debate girou em torno da educação financeira, autonomia, aprimoramento de negócios, caminhos de financiamento, além de perspectivas sobre o mercado de trabalho e a construção de um futuro de prosperidade.

Adriana Barbosa contou como as mulheres mais velhas de sua família influenciaram no seu desejo de empreender. “Eu comecei a empreender olhando o histórico da minha bisavó, que se virava para colocar comida em casa. Assim, eu comecei a vender as minhas roupas em feiras. Quando eu comecei, não tinha muita ideia do que representava a palavra empreendedorismo. Até porque, quando você procura empreendedorismo no Google, só aparecem pessoas brancas. As práticas da minha mãe e da minha avó, que faziam dinheiro para sustentar a família, me influenciaram. Quanto ao Black Money, eu só entendi este movimento quando eu fui aos EUA, mas eu não vejo isso se aplicando no Brasil, não da mesma forma. Acho que estamos mais no afroconsumo”.

Coach de educação financeira, Átila Lima contou que entrou para o universo financeiro para sair das dívidas. Hoje, ela auxilia pessoas que estão nesta situação. “É importante a gente dizer que o que leva a gente para esse lugar do endividamento é a busca por sobrevivência. As dívidas mostram que precisamos de políticas para resolver essa questão. Até porque as mulheres pretas são as que mais sofrem com essa situação. Por isso, na minha oficina, eu trago e acolho este público. E quando a gente chegar em um lugar de conforto, a gente precisa aceitar que é merecedor de prosperar, pois isso foi arrancado de nós. Outro passo é acessar o conhecimento. A gente só muda a relação com o dinheiro, quando a gente aprende sobre ele. Falar sobre educação financeira para o nosso povo é emancipador. O dinheiro faz parte de tudo. A gente precisa reconhecer a potência do dinheiro na nossa existência”.

Oriundo de um dos bairros mais pobres da região da Península de Itapagipe, em Salvador, Carlos Eduardo Dias Barbosa acredita que o microcrédito oferecido pelos bancos comunitários é a luz no fim do túnel para muitas pessoas de baixa renda. “Trabalhamos com créditos para as pessoas que não recebem portas abertas dos grandes bancos. Muitas vezes, essas pessoas recorrem a agiotas. Esse público, muitas vezes, é esquecido pelo estado. Um fator que merece atenção é o aumento do tráfico nas comunidades. Isso atrasa o desenvolvimento dessa região e corrompe os nossos jovens. E o Estado não vê isso. Os jovens negros continuam morrendo. 70% da nossa clientela do banco comunitário já acessou recursos de agiotas ligados ao tráfico, nas comunidades”.

Defensor da autonomia financeira, Giovanni Harvey acredita que é necessária a construção de ambientes que permitam alcançar este lugar. Para que as pessoas possam exercer livremente a sua dimensão política e social. “Ao longo dos anos, o segmento social preto foi o que mais investiu em educação. Eu acreditava que a escolarização era o caminho, mas percebia que não resolvia as questões. O que resolve é a capacitação financeira”.

Por fim, Mariana Araújo reforçou o quanto é importante ter pessoas negras ocupando cargos de poder dentro das corporações. “É importante pensar que o quanto ocupar determinados espaços é válido para gerar oportunidades como essa para o povo negro. Quem pensa na gente é a gente. É preciso estar dentro do sistema para ter o olhar das marcas. Salvador movimenta investimento, por isso, precisamos sair um pouco desse eixo Rio x São Paulo e levar este investimento para outras regiões. O meu papel é de inovação social. De oportunidades e investimentos. Criar ações e soluções que sejam transformadoras para a sociedade”.

Sobre o Festival Salvador Capital Afro

Considerado um marco do Salvador Capital Afro – movimento que busca projetar a cidade como destino em referência nacional e internacional no Afroturismo -, o festival é totalmente gratuito e acontece até 25 de novembro, no Quarteirão das Artes, na Barroquinha. O evento está reunindo diversas atividades voltadas para valorização e fomento da economia criativa preta da cidade, assim como para estímulo ao desenvolvimento de políticas públicas necessárias para o posicionamento de Salvador como uma cidade antirracista.

Apontado como um ecossistema capaz de reunir uma diversidade de público e interesses, por meio de quatro pilares – político, econômico, educacional e cultural – o evento também é visto como uma base de transformação social, cujo foco é capacitar pessoas, mobilizar negócios e envolver, de forma atrativa, toda a cadeia de afroempreendedores.

O Festival Salvador Capital Afro é uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Salvador, através da Secretaria de Cultura e Turismo (SECULT), no âmbito do PRODETUR Salvador, em parceria com a Secretaria da Reparação (SEMUR), e faz parte do Plano de Desenvolvimento do Afroturismo da cidade. O projeto tem financiamento do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento e conta com a parceria de GOL Smiles e Americanas.

 

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