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quinta-feira, dezembro 5, 2024
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Entrevista: Carlos Alberto Vieira Presidente da ABAV-DF

O VOENEWS – Notícias do Turismo iniciou uma série de entrevistas com representantes de entidades de classes do Distrito Federal, começamos com o Presidente da ABAV-DF – Associação Brasileira das Agências de Viagens do Distrito Federal, Sr. Carlos Alberto Vieira.

Carlos Alberto Vieira é brasiliense, casado, pai de três filhos e tem uma neta, o profissional é proprietário da Casa de Viagens Turismo e atua no mercado desde 1985, o mesmo é Bacharel em Turismo pela UPIS e Pós-Graduado em Gestão de Marketing e Turismo pela UNB.

A entrevista aconteceu no Restaurante Dom Francisco ás margens do Lago Paranoá em Brasilia. Procuramos abordar além de assuntos ligados à entidade, temas relacionados ao segmento de viagens, como a atual crise financeira, o fechamento de grandes operadoras e da necessidade dos agentes de viagens se reinventarem em momentos de dificuldades para que possam sobreviver nos momentos mais difíceis.

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VOENEWS: Com relação ao mercado do Distrito Federal que envolve além de Brasília, as Cidades Satélites e o entorno, gostaríamos de saber se a entidade tem dados atualizados sobre a quantidade de agências atuando no mercado ?

Carlos Vieira: Segundo os números do Cadastur baseado em dados de 2015, o Distrito Federal tem 589 empresas registradas como agências de turismo, mas eu fiz uma pesquisa informal e constatei que no meio deste cadastro existiam transportadoras, locadoras, meios de hospedagens e outras empresas que nada tinha a ver com segmento de viagens!

VOENEWS: Mais porque essas informações distorcidas, não existe um filtro dentro do Cadastur que permita ter as informações unicamente de agências de viagens ?

Carlos Vieira: Infelizmente não, para você ter uma ideia tinha empresa do ramo de comércio de derivados de combustível e até empresa de suplemento alimentar cadastrada como agência de viagens.

Tive acesso a dados de 2013 que tinham informações mais apuradas, onde chegamos ao número de 350 agências de viagens registradas, entre emissivas e receptivas, sendo que claro a grande maioria eram de empresas emissivas.

Os número do nosso segmento são bastante frágeis! Para se ter uma idéia tínhamos 350 agências de viagens no CADASTUR No ano de 2014., em reunião com o SEBRAE/DF, fui informado que existiam 415 empresas de turismo cadastradas como MEI (Micro-Empreendedor Individual)! Então eu queria entender como é possível ter 350 empresas no Cadastur e 415 empresas como MEI, principalmente porque mesmo cadastradas como MEI as agências de viagens precisam do Cadastur para funcionar.

Então, quando chegam dados para se trabalhar as informações (e informação é que vale) as coisas ficam muito soltas, além do fato de 2015 termos as informações, nem todas oficiais, de um grande número de agências que encerraram suas atividades, e isto estou falando do Distrito Federal, mas sabemos que acontece no Brasil de uma forma geral.

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VOENEWS: O Senhor está se referindo a empresas que realmente fecharam as portas em definitivo, ou aquelas que por contenção de despesas optaram por fechar o ponto de venda e trabalhar em casa no modelo Home-office, mantendo ativo seu CNPJ e suas atividades ?

Carlos Vieira: Estou me referindo aquelas que encerraram suas atividades e não deram e dão baixa na documentação da empresa. Até porque isto é um processo demorado e caro. Considere também que “somos” uma área muito capilarizada, ou seja, com muitas empresas abrindo e fechando!

Existe a atuação de muitas pequenas e micro-empresas, onde muitos profissionais possuem um movimento de vendas o pequeno onde os resultados das vendas não cobre seus custos! Ele simplesmente fecha o ponto de venda e vai trabalhar em casa, deixa de operar fisicamente, às vezes se registra como MEI…. então é muito difícil de se consolidar dados, devido o dinamismo e a informalidade do mercado.

VOENEWS: Então neste momento de crise essas ações que o senhor está mencionando devem ter se tornado mais frequentes? strong>

Carlos Vieira: De fato o ano de 2015 foi muito atípico e o ano de 2016 tende a ser muito pior. Logo, os profissionais terão que se reinventar, sair da “casinha” e ver o seu negócio com mais profissionalismo do que tenha feito até então. Não que os mesmo não tenham agido profissionalmente, mas o momento pede que a forma seja intensificada no que diz respeito ao seu modelo de negócios.

Como se trata de pequenas, micro e “nano” empresas, é importante que saibam que o modelo atual está numa contagem regressiva e deve se exaurir em pouco tempo!

Como se tratam de pequenas e micro empresas é importante que saibam que o modelo atual está numa contagem regressiva e deve se exaurir.

VOENEWS: Com relação a ABAV poderia informa o número de agências de viagens que são associadas á entidade ?

Carlos Vieira: Temos em torno de 70 agências de viagens.

VOENEWS: Como podemos classificar essas agências de viagens no que se refere a sua área de atuação no mercado, a grande maioria são empresas que trabalham no segmento corporativo e órgãos do governo, temos uma maioria de agência que atuam no lazer ou uma mescla ?

Carlos Vieira: Acredito que nesse montante de 70 agências temos umas quinze apenas que são dedicadas ao atendimento de órgãos do governo. As restantes trabalham no segmento de lazer e no turismo corporativo privado.

É importante ressaltar que ao se tentar segmentar muito o mercado, definindo nichos de atuação, acabamos tendo dificuldade de fazê-lo pela amplitude deste. Para se ter uma ideia, existem agências de turismo no mercado que sequer emitem passagens aéreas! Algumas não trabalham com contas corporativas e simplesmente atendem um nicho de mercado bem específico.

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VOENEWS: Se trabalharmos com o número de 350 agentes de viagens, sendo que somente 70 são associadas a ABAV-DF, podemos dizer que o número é relativamente baixo. O senhor acredita que seja pelo custo de ser uma agência ABAV, ao fato do mercado ver a entidade com indiferença ou devido ás gestões passadas terem comprometido a credibilidade da a entidade e consequente afastamento das agências ?

Carlos Vieira: Eu acredito que o número baixo de associados dá-se ao fato de por um longo tempo a ABAV-DF ter sido vista com um clube, um clubinho de algumas agências que não trabalhavam em benefício de uma coletividade e sim em benefícios próprios.

Associação significa reunião de pessoas ou empresas ou entidades com interesses comuns, e a ABAV-DF na verdade não passava de um clubinho.

VOENEWS: Esse “clubinho” ainda existe ou acabou o formato que dava essa conotação e afastavam as demais agências que tinham interesse mais não eram aceitas na entidade ?

Carlos Vieira: Eu entrei na na diretoria da ABAV pela primeira vez em 2009 como secretário geral. E um dos primeiros atos da Diretoria, foi exatamente acabar com o “clubinho”e facilitar o acesso à entidade! O agente de viagens que quiser se associar, basta apresentar os documentos exigidos para sua constituição e a aceitação é imediata! Simples assim. Isto é uma Associação!

Anteriormente as agências de viagens tinham que mandar a documentação, e mesmo que estivesse tudo de acordo com o solicitado, precisava da “aprovação de um Conselho”, que se reunia sabe Deus quando, para votar se aceitava ou não a agência como associada. Mas isto foi no século passado……

Isto não existe mais, uma vez que a agência tenha toda a documentação solicitada ela é simplesmente aceita como associada, é assim que deveria ser desde o início, mas infelizmente não acontecia.

VOENEWS: Com relação a atuação da ABAV, o que poderia ser feito para que mais agências pudessem se interessar em se associar? O que é feito mas que aparentemente não acontece ou pelo ao menos não temos conhecimento?

Carlos Vieira: Realmente houve um descrédito da associação pelo fato de gestões passadas terem deixadas várias e várias dívidas que engessou a entidade por muito tempo.

Perdemos muito tempo cuidado de processos herdados das diretorias de 2009 para trás, e desde que assumimos em Janeiro de 2010 trabalhamos para regularizar as pendências financeiras da entidade buscando recuperar a credibilidade da entidade.

Em 2010 decretamos que a ABAVDF não mais utilizaria os seus recursos para realizar eventos com comes e bebes para ninguém! Nós tomamos ações para quitar as dívidas que eram mais urgentes entre muitas que tinham, visando justamente evitar que a ABAVDF tivesse suas atividades encerradas.

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VOENEWS: Sobre sua experiência como presidente da ABAV-DF, poderia fazer um balanço do primeiro mandato e falar dos desafios de dar continuidade por mais um mandato em momento tão delicado para o turismo ?

Carlos Vieira: Meu “novo” mandato já está em andamento desde a eleição no final de outubro do ano passado. Por alinhamento com a entidade NACIONAL todas as ABAV’s estaduais e a do DF, devem realizar eleição e posse imediata no mês de outubro dos anos impares! Exatamente porque em 2009 tivemos uma eleição no mês de setembro, onde o edital de eleição foi solto apenas dois dias antes da eleição.

Na verdade foi uma ação tomada porque quem estava a frente da entidade não queria sair, e consequentemente agiram de uma maneira que tornasse inviável a candidatura de chapas para concorrer as eleições.

Tivemos que colocar uma pessoa de plantão na porta da ABAVDF para que tivesse acesso ao EDITAL no momento em que fosse lançado.

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VOENEWS: Quais foram os cargos que já ocupou na entidade até chegar á presidência onde está no segundo mandato ?

Carlos Vieira:Entrei na ABAV em 2009 como Secretário Geral quando o Sr. Carlos Alberto de Sá (VOETUR) assumiu a presidência da entidade. Participei de um segundo mandato do Carlos Alberto de Sá, como Vice-presidente. Posteriomente, fui eleito presidente e agora estou no segundo mandato.

Espero que em 2017 tenhamos uma chapa que consiga dar continuidade a este trabalho que está sendo feito de recuperação da entidade.

VOENEWS: O Senhor fala de recuperação da entidade com frequência o que nos remete que quando assumiram a situação dela era delicada, poderia nos falar de como foi este início ?

Carlos Vieira: Após eleições que aconteceram em Setembro/2009, somente em meados de Dezembro/2009. Recebemos, fechamos e fomos embora.

Quando chegamos na ABAV para recebê-la por se tratar do mês de dezembro, contratamos um chaveiro para trocar todas as chaves e fechaduras e fomos embora.

Em janeiro iniciamos de fato as atividades, mas constatamos que naquela ocasião a entidade tinha cerca de R$ 350.000,00 (Trezentos e cinquenta mil reais) em dívidas.

A ABAV tinha ficado entre 2005 e 2009 sem pagar nenhuma taxa de IPTU e muito menos condomínio, na verdade a entidade não pagava nada, pois até mesmo o capacho que havia sido feito com a logo da entidade estava pendente de pagamento.

Então traçamos um plano para quitar as dívidas. Claro que devido a falta de recursos, não tivemos como quitar todas as dívidas de imediato.

Também tivemos problemas de negociar as dívidas pois nossos credores informaram que já haviam feito isso anteriormente e as negociações não foram honradas, ou seja, não tínhamos credibilidade.

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VOENEWS: Com todas essas pendências como era a relação com a ABAV NACIONAL, pois sabemos que existe uma hierarquia e subordinação à mesma e uma necessidade de transferência de recursos ?

Um dos nossos credores era justamente a ABAV NACIONAL, a quem devíamos e também não tínhamos credibilidade. Tivemos também que negociar e parar.

VOENEWS: Qual foi o problema mais sério da entidade no que se diz respeito a parte financeira que estava caótica de uma forma geral ?

Carlos Vieira: Tivemos que fazer uma lista de prioridades, e saímos trabalhando, mas de fato o mais grave foram os 04 (quatro) anos sem pagar condomínio, pois gerou um processo que culminou com a ordem da justiça de penhora dos imóveis da entidade.

Para que ABAV não perdesse seus imóveis, nós tomamos a decisão de vendê-los e quitar a dívida de condomínio que chegou a R$ 184.000,00 (Cento e oitenta e quatro mil reais). Como não havia recursos para o pagamento, tivemos nossas salas penhoradas. Além de perdemos as salas, ainda deveríamos reconstituí-las aos moldes do condomínio. Ou seja, perderíamos as salas e ainda teríamos de pagar a reforma.

Diante do exposto resolvemos vender as salas! Quem comprou negociou as dívidas diretamente com o condomínio e dentro da negociação de compra e venda o valor da dívida foi abatida junto ao condomínio.

Com os recursos saímos quitando todos os débitos da entidade e sobrou recursos para um novo imóvel.

VOENEWS: Então o fato da ABAV ser proprietária de imóveis possibilitou que os ajustes fossem feitos de uma maneira mais tranquila para a entidade ?

Carlos Vieira: Relativamente, pois descobrimos que mesmo os imóveis sendo da ABAV-DF, estavam em nome da ABAV NACIONAL! Nunca entendi o motivo pelo qual o imóvel não estava no nome da sua real proprietária.

Mas a ABAV NACIONAL havia enviado um documento relatando que apesar do imóvel estar em seu nome o mesmo era de propriedade e de responsabilidade da ABAV-DF, acabou que eu nem quis saber como os imóveis foram parar em nome da Nacional.

Em 2015 vendemos os imóveis e saneamos todos os problemas financeiros da ABAV-DF, e a atual diretoria determinou que até março de 2016 a entidade volte a ter uma sede própria, uma sede decente e devidamente estruturada para receber os seus associados, com as devidas instalações que permitam aos associados fazerem reuniões e utilizar o espaço para pequenos eventos.

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VOENEWS: Diante do exposto então podemos afirmar que a ABAV-DF sob essa nova gestão e utilizando os mecanismos que estavam ao seu alcance hoje encontra-se em dia com todas as suas obrigações financeiras ?

Carlos Vieira: Para se ter uma ideia, a aproximadamente 8 anos a ABAV-DF não tem reajuste de taxas de associados, então hoje com a contribuição que ela recebe mensalmente, as receitas giram próximas a R$ 6.000,00 (seis mil reais), com esses recursos ela consegue muito bem se manter e pagar suas contas em dia.

Temos apenas uma funcionária que é a Rosana que hoje nos atende muito bem, e os recursos que temos em caixa é justamente para comprarmos uma sala e entregarmos aos associados uma entidade sem dívidas e devidamente estruturada. Sempre respeitamos a contribuição do associado e nunca nos permitimos abusar da confiança em nós depositada!

VOENEWS: Muitos agentes de viagens ainda se incomodam com a rede mundial de computadores, a Internet, a quem eles vêem como uma vilã e concorrente, gostaria que falasse do que acha desta postura destes profissionais que na verdade deveriam vê-la como aliada ?

Carlos Vieira: Eu costumo dizer que é uma tremenda idiotice culpar a tecnologia por um problema seu, a internet está ai e duvido muito que algum agente de viagens consiga trabalhar sem utilizá-la.

O que eu costumo dizer é que os clientes que buscam comprar na internet são atraídos apenas por um negócio chamado “preço mais baixo”, e sempre que sou convidado a falar sobre este tema, eu ressalto que a internet é um canal de vendas e não um canal de atendimento.

Quando um cliente entra em contato com uma agente de viagens ele está em busca de informações,de segurança, de confiança. Caso o agente não consiga suprir estas necessidade ele vai diretamente na internet.

VOENEWS: Qual a principal diferença que pode ser evidenciada na compra através dos agentes de viagens ou através da internet que são dois entre os vários canais de vendas disponíveis ao consumidor final ?

Carlos Vieira: A maioria das vezes o cliente está em busca de um consultor, ele precisa conversar com alguém sobre uma viagem, e é importante que se saiba que na internet o mesmo não terá o atendimento nem antes, nem durante e nem depois da viagem.

Via internet ele também só terá um meio de pagamento, o que ainda é muito temido por muitas pessoas que não confiam em utilizar o cartão num site que não confia com medo de clonagens ou débitos futuros indevidos na sua fatura.

Na minha visão o agente de viagem que reclama da internet e que fala que a mesma atrapalha os seus negócio, ou ele está com um perfil equivocado ou ele não está ligado no que está acontecendo no mundo, pois eu costumo dizer que você consegue fugir do passado, mais o futuro te pega, e a internet cada vez mais estará no nosso dia-dia e cada vez mais aumentará a nossa dependência dessa ferramenta.

Hoje se um cliente liga e agenda um horário na sua agência para ver uma viagem, o profissional terá que buscar as informações na internet, os antigos guias como OAG e INDEX não existem mais, nem mesmo dicionários nós utilizamos. A internet nos dá agilidade e qualidade na informação, agora onde e como pesquisar é um problema de cada um.

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VOENEWS: Dentro deste assunto não sei se seria redundância perguntar se existe alguma ação prevista pela entidade que visa justamente a valorização dos profissionais turismo, sobre divulgar a diferença e riscos de pessoas deixarem de utilizar um agente de viagem para comprar sozinho seus produtos na internet ?

Carlos Vieira: Hoje, dentro das nossas prioridade isto está elencado. Mas é passível de discussão do formato, pois trata-se de um problema nacional, onde a ABAV que é uma entidade de classe precisa trabalhar para defender o interesse da sua categoria e muitas vezes precisamos de muito tempo e desgaste, além de recursos para implementar uma campanha como esta, coisa que lamentavelmente nós não temos.

Precisamos buscar algumas parcerias para poder fazer ações neste sentido, como fizemos em abril do ano passado quando organizamos pela primeira vez no Centro de Convenções Ulysses Guimarães em Brasília, em parceria com o PROCON-DF, palestras com o tema: “O Código de Defesa do Consumidor aplicado ao segmento de agências de viagens” para que o órgão através da sua diretoria esclarecesse aos agentes de viagens a importância do mesmo ter ciência disso, eu costumo dizer que cada dia mais os agentes de viagens estão ganhando menos, trabalhando mais e tendo maiores responsabilidades.

Foi uma palestra muito boa, onde inclusive tivemos “over booking” devido a grande quantidade de participantes que ultrapassou o número de 200 pessoas interessadas na palestra que foi ministrada pelo Dr. Paulo Márcio diretor do Procon-DF e toda sua diretoria.

VOENEWS: Existe previsão a curto prazo de novas ações como esta, em que a entidade possibilita que os agentes de viagens tenham acesso a informações de órgãos regulares e de controle para otimizar a sua prestação de serviço ?

Carlos Vieira: Provavelmente após o carnaval promoveremos uma nova rodada com o Procon-DF. Desta vez faremos palestras diferentes, inclusive estamos convidado a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil e SAC – Secretaria de Aviação Civil, participará provavelmente o departamento jurídico da ABAV-DF ou ABAV Nacional e também convidaremos representantes da BRAZTOA – Associação Brasileira das Operadoras de Viagens e ainda queremos ter a participação de consumidores.

A ideia é fazer um “evento debate” onde perguntas e respostas poderão ser feitas sem restrições, onde os membros poderão ser consultados diretamente pela plateia.

Importante ressaltar que queremos trazer consumidores que eventualmente tiveram problemas em determinados momentos de sua viagem, a intenção é que os agentes de viagens entendam que eles são muito mais parte da solução do que parte do problema e que os julgadores também possam entender isso.

VOENEWS: Quando o senhor fala dos julgadores também terem a necessidade de compreenderem a atuação do agente de viagens que é meramente um intermediário de serviços prestados por terceiros o que quer dizer com isso ?

Carlos Vieira: Os julgadores (Juízes e Desembargadores) precisam entender que os agentes de viagens não podem ser penalizados por todos os problemas que ocorram na prestação de serviços de viagens, porque hoje boa parte dos processos que as agências de viagens respondem no PROCON e na Justiça Comum se referem a má prestação de serviços por parte do fornecedor.

O item número um em reclamações é justamente com relação a companhias aéreas, e nós não somos responsáveis por cancelamento de voos, atrasos de voos e nem por extravio de bagagens, mas somos penalizados quando fatos como este acontecem.

Ao adquirir um pacote e se hospedar num hotel, e mesmo que sua viagem tenha sido maravilhosa, mas por ventura o mesmo solicitou que passassem uma camisa e ela foi danificada, o cliente entra na justiça e pede a devolução de todo o valor pago pela viagem, além de danos morais.

Existem casos em que se adquire um pacote de lua de mel, o marido adorou a viagem, foi tudo ótimo para ele, mas se a esposa não gostou eles processam o agente de viagem, nos viramos o “patinho feio” do negócio e estamos sendo responsabilizados por aquilo que não temos culpa nenhuma e nem mesmo gestão sobre determinados fatos e serviços.

VOENEWS: Temos vistos várias fusões envolvendo Operadoras e Consolidadoras, acredita que esta tendência chegará ás agências de viagens ou as características são muito diferentes para que as mesmas sigam este caminho ?

Carlos Vieira: Quando você fala que agente de viagem é um segmento diferente eu preciso discordar, pois acredito que isto seja uma falha da análise coletiva, pois agência de viagem é um negócio, e como todo negócio precisa dar um lucro.

Se a minha agência custa 10, teu tenho que vender 11 pra sobrar 1, então primeiro, eu acho que falta ao agente de viagem um profissionalismo para entender que agência de viagem é um negócio que tem que dar dinheiro, afinal ele vai trocar o seu conhecimento, o seu tempo, que se leva para buscar o melhor preço, a melhor opção, a melhor viagem para ter um resultado financeiro disso, e o resultado precisa ser satisfatório, senão deveria se chamar entidade filantrópica, se é pra fazer caridades.

Existem agências que alegam que não conseguem cobrar o serviço prestado dos seus clientes, neste caso acredito que este profissional precise de tratamento, agora como você quer discutir negócio se você não sabe fazer negócio ou se o seu negócio é mal gerido,

É preciso entender que agenciamento de viagens é um negócio, e depois, é preciso parar de buscar soluções fáceis demais, como foi dito pelo Dr Paulo do Procon na última palestra que realizou em parceria com a ABAV´-DF, “é preciso que ao invés de buscar oferecer o “menor” preço, se passe a oferecer o “melhor” preço, pois a chance se se ter problemas é bem menor, e além de procurar buscar somente o melhor para o cliente o profissional precisa saber buscar o que é melhor para si também.

Não se pode esquecer que quando se busca somente o menor preço, o agente está aumentando os seus riscos! É preciso trabalhar pensando nos seus resultados. Tem uma frase que digo há mais de 10 anos, e muitos falavam que eu era/sou ignorante: : “As grandes empresas se fundem e as pequenas se se confundem”.

Enquanto não se entender que a sua empresa é um negócio, a minha é um negócio e a outra também é um negócio ele vai ser sempre uma agência pequenininha, porque menos do que amanhã e mais do que ontem a gente vai começar a ver esses processos de fusão e junção acontecendo, porque este modelo tradicional de agência que tem dois clientes que te mantém está exaurido.

Se analisarmos do ano passado pra cá, tivemos vários fechamento de empresas, algumas muito tradicionais que saíram do mercado, então a questão é porque não analisar por exemplo: Se eu vendo 50 mil por mês e você vende 50 mil por mês, vamos nos juntar, iremos vender 100 mil e nossas despesas cairão pela metade.

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VOENEWS: O senhor já conversou com agências de turismo deste mercado sobre esta tendência, principalmente em momentos difíceis como este que estamos passando ? se conversou qual foi a resposta mais comum que obteve ?

Carlos Vieira: Eu já tive a experiência de conversar com uma série de agências, mais existem vaidades do tipo: o meu nome é melhor do que o seu, a minha caneta Bic é melhor do que a sua caneta Bic, o meu papel branco é mais branco do que o seu, e o meu sal é mais salgado do que o seu sal, ou seja, as pessoas tem uma visão muito curta do negócio, elas não sabem fazer uma análise do seu empreendimento.

O fato é que as mesmas costumam ver sua empresa como o resultado do seu esforço em montar sua agência e ter uma carteira de cliente como algo intocável, só que hoje o negócio está mudando.

Então acredito que independente do nome que se dê a este movimento que pode ser chamado de junção, fusão, parceria, ou até uma SPE que é Sociedade de Propósito Específico, porque talvez este seja o único setor em que todo mundo tem os mesmos fornecedores e praticamente as mesmas condições e ainda assim ficam se matando.

VOENEWS: As franquias surgiram como o melhor caminho a ser seguido para o fortalecimento de pequenos empresários de turismo, mas após o auge deste modelo, e mesmo tendo opções como Tourlines, TZ Viagens, Clube Turismo e a própria CVC parece que as adesões não foram a contento, como vê esta situação ?

Carlos Vieira: Não sei a quantidade de franquias existentes no Distrito Federal, mas a minha posição a respeito de franquias na nossa área é de que trata-se de uma falácia! Primeiramente trata-se de uma área em que cada dia você trabalha mais, tem mais responsabilidades civis e criminal sobre os seus negócios e está ganhado cada vez menos dos seus parceiros e fornecedores.

Imagina além de todos esses problemas você ainda ter que pagar royalties para o seu franqueador, você não esta ganhando quase nada e ainda vai estar pagando para está utilizando uma determinada marca.

VOENEWS: Mas o modelo de franquia na verdade é uma troca, você paga mais passa a ter uma marca forte e um plano de marketing definido que permite o crescimento de sua empresa através de um pool, você não concorda ?

Carlos Vieira: Olha só, do pouco que conversei com franqueados que conheci em Brasília e também fora de Brasília, eu não vi ninguém satisfeito com este modelo, até porque geralmente se vai primeiramente pela empolgação, depois na inocência, e terceiro você vai descobrir que o resultado financeiro e operacional do seu negócio não é igual ao franqueado te mostrou baseado num planejamento superficial. Aí é a hora que você se pergunta: E agora como é que vou me livrar disso ?, pode até ser que alguém tenha se dado bem, mas não foi o que constatei com a maioria das pessoas que optaram por este caminho.

Podemos citar o caso da Almeida Viagens que teve sucesso na Europa, veio ao Brasil com um planejamento fantástico de crescimento, chegou a abrir três lojas em Brasília e num breve espaço de tempo encerrou suas atividades ?
Eu tive com o pessoal da Almeida Viagens num congresso da ABAV anos atrás, tive também com a finada Marsans Viagens que me ofereceu uma franquia em Brasília e eu sinceramente não quis.

O fato de conhecer o mercado, saber das dificuldades e ganhar pouco me fez pensar; Como vou me meter numa confusão dessa, mas acredito sim, que tenham uns dois ou três nomes no mercado que valha a pena, caso você tenha uma grana para investir, mas o que observo, principalmente é que se você fizer uma retrospectiva maior dessas franquias, é que existiu uma demanda muito grande de empresas entrando no segmento de turismo, principalmente das OTA’s e rapidamente elas saíram.

VOENEWS: Mas deve existir um motivo maior para essas debandada, pois além das OTA’s nós vimos até mesmo lojas abrindo venda de produtos turísticos como “Carrefour Viagens”, “C&A Viagens” entre outras, qual seria na sua análise sobre o motivo da falta de sucesso dessas empresas ?

Carlos Vieira: Foram muita empresas, todos queriam abrir lojas ou pelo ao menos quiosques para comercializar viagens, mas este modelo não vingou porque viagem não é um produto tão simples, não é igual um refrigerante que você compra, toma e vai embora.

Produtos turísticos muitas vezes são adquiridos para serem utilizados daqui a dois, três, seis meses, e se der algum problema você tem que estar pronto para resolver.

Não sei de fato o que ocorreu para que fossem descontinuadas, mas a minha impressão é que quando foram fazer contas, a lucratividade do negócio não foi da maneira que anteriormente havia sido desenhado para os investidores.

Grande grupos querem saber da rentabilidade! Ofereceram uma coisa á eles e depois se constatou que não eram bem aquilo eles desistiram! Volto àquela questão de quem compra uma passagem no atacadista que não tem o perfil de atendimento desse público, e se por acaso acontece um problema num domingo á tarde quando essa loja está fechada, como este cliente será atendido ?

Então é isso, eu acredito que quando perceberam a fragilidade, dificuldade e principalmente a responsabilidade que eles estavam se submetendo para um rentabilidade pequena viram que não era para eles um bom negócio.
Esta é apenas minha impressão.

VOENEWS: Tivemos um ano de 2015 atípico, complicado que deixou muitas sequelas, como o senhor enquanto presidente da ABAV analisa esse fatídico ano ?

Carlos Vieira: O ano de 2015 foi um ano dramático para o nosso setor, nós vínhamos trabalhando já algum tempo com uma carga bastante efetiva de serviços, vínhamos tendo novas classes econômicas entrando no mercado e passando a adquirir produtos turísticos, chegamos a ter problemas em aeroportos devido ao grande número de viajantes.

De uma hora para outra tivemos fatores como a desvalorização da moeda que de imediato o mercado sentiu o baque, a baixa demanda, a redução da oferta devido as companhias aéreas diminuírem o número de voos, a redução do poder de compra e passamos observar situações que não eram tão comuns, como promoções de viagens no mês de janeiro, carnaval, férias… coisas que nunca tínhamos visto.

Chegamos ao cúmulo de vender passagens aéreas para Miami e Orlando pelo valor de U$D 200,00 (Duzentos dólares).

Então se as companhias reduzem 10% dos seus voos, a moeda desvaloriza 60%, o Serasa divulga em Setembro/2015 que existiam cerca de 57 milhões de brasileiros negativados, o que quer dizer que aproximadamente 40% do povo que trabalha está sem condições de comprar a prazo, temos de considerar que a maioria das viagens de lazer são vendidas financiadas, ou seja, uma crise talvez sem precedentes que estamos vivendo até então.

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VOENEWS: Várias operadoras brasileira deixaram de operar, inclusive empresas tradicionais. Na sua análise qual a causa maior disto tudo ? Política, Sócio-Econômica, Gestão ou o conjunto de fatores ?

Carlos Vieira: Os fatores elencado na questão anterior fizeram com que um número de empresas num volume nunca visto anteriormente encerrassem suas atividades, algumas delas causando grandes prejuízos ao mercado de agentes de viagens, que são aquelas operadoras que não honraram as viagens vendidas, e isso se deve não só a desvalorização da moeda e também o único culpado não é o governo, apesar de que as pessoas confiaram no governo e o governo mentiu para todo mundo.

Se lembrarmos o processo eleitoral de 2014 não existia crise, não existiam problemas econômico e agora estamos vendo o resultado! Decorrente disso tivemos problemas de gestão, inclusive eu fui um que encerrei as atividade de uma operadora (Mobi Travel), pois devido a problema de desvalorização da moeda, uma variação cambial assustadora, retração do mercado, queda da remuneração associado a um custo trabalhista muito alto nos obrigou a tomar decisões que não são agradáveis.

Muitas vezes as pessoas demoram a tomar essas decisões, eu me lembro que quando resolvi fechar a Mobi Travel muita gente falou mal no mercado, mas eu não posso me preocupar com isso.

Primeiramente procuramos honrar todas as viagens vendidas, depois garantir o pagamento dos fornecedores e depois ver como deveríamos quitar os demais débitos, tivemos problemas financeiros sim, se o grandes operadores tiveram problemas então você imagina os pequenos.

Agora, as pessoas as vezes procuram insistir mesmo num cenário negativo acreditando que o mesmo possa se reverter, a verdade é que além de não se reverter o mesmo piorou.

VOENEWS: E quanto esta questão da crise acabar, o cenário mudar, o crescimento ser retomado no nosso segmento, como vê essa situação ?

Carlos Vieira: As pessoas precisam entender que o setor de viagens depende de uma macroeconomia, então não dá pra imaginar que num país em que batemos o recorde de desemprego desde 1994 senão me engano, onde 1,5 Milhão de pessoas perderam seus empregos, a pessoa vai comemorar viajando! Isso não vai acontecer. As pessoas vão segurar o dinheiro para que possam se manter até que voltem ao mercado de trabalho, e isso pode demorar porque as perspectivas são desfavoráveis para a retomada do emprego e aquecimento da economia.

Não dá pra imaginar que uma moeda que sofreu 60% de desvalorização vai permitir que muitas pessoas optem por viajar para o o exterior, nós até acreditávamos que essas pessoas que deixaram de sair do Brasil viajariam dentro do Brasil, mas não vimos isso se concretizar no volume esperado.

VOENEWS: Sabemos que muitas agências tiveram que honrar os compromissos que eram das operadoras para atenderem os clientes que foram deixados na mão, a ABAV tem conhecimento de empresas que por motivos como este deixaram de funcionar ou todas se safaram ?

Carlos Vieira: O conhecimento que a ABAV tem é informal, pois ouvimos falar que algumas empresas encerraram suas atividades em decorrência de operadoras que fecharam e não honraram com os compromissos que ficou a cargo dessas agências que não suportaram a situação.

Mas oficialmente a entidade não recebeu nenhuma correspondência formal de agência se manisfestando em decorrência de estarem passando dificuldades devido as operadoras que encerraram suas atividades.

Aliás, apenas uma agência me ligou falando que teve prejuízo, mas que conseguiu resolver os problema dos seus passageiros e mantem-se aberta, mas como falei anteriormente, principalmente em eventos sociais escutamos sim histórias de agência que fecharam.

VOENEWS: Mesmo não tendo uma economia voltada a indústria que sofreu mais, Brasília tem muita prestação de serviços e funcionalismo público, esses fatores não deveriam contribuir para que o impacto na capital federal fosse menor ?

Carlos Vieira: Existe um discurso que diz que Brasília tem o segundo maior PIB do Brasil, que temos um nível muito grande de funcionários públicos que tem uma boa renda e também estabilidade no seu emprego, e logo não deixariam de viajar.

Mas é importante ressaltar que até então nós nunca tínhamos ouvido falar que o Governo do Distrito Federal não tinha dinheiro para pagar seus servidores, que o Governo Federal estava ameaçando não pagar o décimo terceiro salário, o Governo do Rio de Janeiro não pagou aposentados e pensionistas, o Rio Grande do Sul e Minas Gerais parcelando salários de servidores.

Eu costumo dizer que viajar é a pauta número um nas prioridades dos brasileiros! Mas viajar também é a prioridade número um na pauta de corte, volto a dizer que é impossível imaginar que uma pessoa demitida ou que não receba seu salário vá comemorar fazendo uma viagem.

Não dá pra imaginar que uma pessoa que está com o nome no Serasa, ou com problema de crédito na praça vai pegar o pouco dinheiro que tem e vai comprar uma viagem á vista, e olha que não estamos falando do mau caratismo, estamos falando da desvalorização da moeda, o aumento da inflação, o servidor público recendo salário parcelado, então dá pra imaginar que essas pessoas tenham disposição para viajar ?

Então houve sim uma retração no mercado de viagem, e não podemos deixar de mencionar que os novos viajantes que compravam suas viagens em 10 vezes sem juros sumiram, pois ou estão sem crédito ou estão guardando seu dinheiro pois sabem que correm o risco de serem demitidos.

VOENEWS: Falando dessas demissões que assolaram o país em grande número, o maior número desde a criação do Real, no mercado de turismo do DF foi diferente ?

Carlos Vieira: Não foi diferente em nada, posso te afirmar que o SENDETUR que é o Sindicato dos Empregados de Turismo aqui do Distrito Federal passou os meses de Novembro, Dezembro e Janeiro fazendo rescisões trabalhistas! Um índice muito grande de demissões que não acontecia a muito tempo no nosso mercado.

Como vê a recuperação do turismo de uma forma geral, e também exclusivamente no mercado de Brasília que tem alguns diferenciais e o senhor tem mais conhecimento ?

Carlos Vieira:Eu tenho conversado muito com outros segmentos e também com pessoas da área de economia, e existe um temor generalizado de que o país trave o consumo, e este movimento afetará sem dúvida o setor de viagens.

É inegável, até porque é histórico, que após o Carnaval o mercado sempre tem uma aquecida, mas este ano existe uma perspectiva muito negativa pelo fato das pessoas físicas e jurídicas terem como principal item da pauta de cortes a redução ou eliminação de viagens.

As próprias companhias aéreas já anunciaram a redução de voos, além de reduzir voos existem companhia aérea Brasileira que está mandando aeronaves para outro continente, que é o caso da Azul Linhas Aéreas que através de parceria com a TAP está enviando 19 aviões.

Eu acredito que este ano nosso setor vai sangrar muito, mas também acredito que seja a hora do empresário, seja o pequeno, o médio, ou o grande fazer uma análise de sua empresa, ver onde o mesmo pode economizar e procurar otimizar os seus negócios.

As vezes as pessoas me ligam e perguntam e aí como está ? eu falo abertamente que está ruim e vai piorar, não adianta esmorecer, temos que trabalhar, procurar otimizar o nosso tempo de venda, valorizar ainda mais os nossos produtos e serviços para tentar ganhar o cliente.

Eu não tenho dúvida de que o cliente vai gastar mais tempo pesquisando e teremos que ter mais eficiência nas respostas e também mais qualidade nas mesmas, porque nós teremos que ter mais atenção no atendimento e nas consequências dela, pois não podemos esquecer que quem responde por qualquer eventualidade na prestação do serviço é o agente de viagens.

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VOENEWS: Com relação ao mercado, se a crise continua os riscos também continuam, então as agência devem manter-se preocupadas com o que aconteceu no último ano quando venderam produtos através de empresas que fecharam e acabaram ficando com o prejuízo ?

Carlos Vieira: O nosso mercado tem algo de muito errado, e me sinto a vontade pra falar porque atuo nele desde 1985 e todo mundo se encanta muito com a quantidade de anúncios que as empresas fazem, com o número de produtos que oferecem a preços atrativos, mas ninguém tem acesso aos número reais, aos balanços dessas empresas sejam elas agências, operadoras ou consolidadoras, e quando olhamos as publicações das Cias Aéreas elas estão sempre operando no vermelho,alegando prejuízos bilionários em 2015 e a mesma previsão para 2016.

Então se analisarmos que dentro da cadeia produtiva do turismo o fornecedor maior, que é o que envolve maior necessidade de recursos como as companhias aéreas dizerem que estão numa situação difícil e operando no vermelho, como é que os demais poderão está numa situação confortável.

Então precisamos estar alerta a qualquer sinal para evitarmos transtornos como os que aconteceram com muitas agências no último ano.

VOENEWS: Antes tínhamos aqui na cidade principalmente operadoras locais aí fomos “invadidos” pelas operadoras de outros estados que sabem do potencial de vendas local, chegamos a ter uma número enorme de operadoras e agora o número reduziu muito com a crise. Acredita que estamos voltando a realidade ou é apenas uma fase que será superada e voltaremos a ter um grande número de Operadoras ?

Carlos Vieira: Eu acho acho o seguinte: o mercado vive da lei da oferta e demanda, e o que vivenciamos nesse último ano e que deve continuar em retração para 2016 é que em função de alguns custos que cada empresa tem ela acaba se tornado inviável.

A questão não é se o mercado é pequeno ou grande, nós temos que saber que este número de empresas que vieram para Brasília se dá pelo quantidade de dinheiro que circula aqui na capital federal, agora assim como a internet facilitou essa expansão comercial, essa desvalorização da moeda e este contexto sócio-econômico que vivemos afetou as empresas de modo geral.

Precisamos diferenciar as empresas que encerraram suas atividades em definitivo e aquelas que fecharam o escritório em Brasília de forma estratégica, e possivelmente retornem a este mercado num futuro com uma formatação em que os custos sejam menores, porque este mercado não deixará de ser importante para nenhuma operadora que opera no país.

Agora não temos bola de cristal, e não somos visionários, o que fazemos e traçar um cenário sócio-econômico, estudos de mercado que possam dar o devido embasamento para tomada de decisões.

Esses fatores que aconteceram nós já havíamos visto em outros setores, mas não acreditávamos que poderia acontecer no nosso, mas quando analisamos que tínhamos vendas realizadas a um dólar a R$ 2,40 aproximadamente, e quando as operadoras foram pagar seus fornecedores o mesmo dólar estava a R$ 4,40, onde está esta diferença ? são dois reais de diferença por dólar, é muito dinheiro.

VOENEWS: Voltando a falar de agências de turismo, nós tivemos além dos problemas das agências que trabalham principalmente com o turismo de lazer, também tivemos a questão da Central de Compras do Governo que veio para prejudicar as agências que participam de licitações, então podemos afirmar que o ano não foi bom para ninguém ?

Carlos Vieira: Sem dúvida, na verdade não foi bom nem mesmo para o governo que está pagando pelo que ele fez, agora, 2015 foi um ano muito difícil, 2016 também será, mais eu acredito que só o trabalho salva! Vamos precisar de mais foco, mais profissionalismo objetivando custos menores, e também acredito numa tendência de mercado onde as agências passaram a comprar seus produtos diretamente dos fornecedores, claro que isto será mais comum nas agências que tem um cacife maior e clientes com maior poder de compra.

Devido a uma série de problemas que já mencionamos, além de boatos que empresas a, b e c fechará, isto nacionalmente, faz com que algumas agência procurem se resguardar, e principalmente as mais experientes que tem kow-now acabarão optando por utilizar cartão de crédito corporativo para adquirir diretamente com os fornecedores internacionais os produtos para atendimento aos seus clientes.

falo isto porque já existem muitas empresas fazendo isto e a tendência é aumentar, pois assim as mesmas conseguem fugir de problemas legais que são devidamente protegidos pelo código de defesa do consumidor e ainda garantem a entrega do produto.

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VOENEWS: Mas essa ação por parte das agências de turismo não vem descaracterizar uma cadeia produtiva que existe no nosso mercado, como as Operados montarem os produtos e as agências venderem? O senhor está falando das agências operarem diretamente os seus produtos?

Carlos Vieira: O que acontece é o seguinte, todos veem, principalmente os mais antigos, como você e eu que atuamos no mercado a muito tempo, que existia um mercado muito bem desenhado, Cia Aérea, Operadora e Agência de Turismo, onde era tudo lindo e maravilhoso, onde o cliente procurava a agência demandando um pacote, as agência entravam em contato com as operadoras que utilizando seus fornecedores preparavam o pacote e devolvia para as agência atenderem os seus clientes finais, era tudo muito lindo, ninguém brigava e funcionava direitinho.

Com o passar do tempo foram surgindo novas formas de se fazer negócios, as próprias companhias aéreas começaram a montar Operadoras como a Varig Travel e TAM Viagens por exemplo, então com tecnologia tudo isso mudou, a comunicação que existia no passado onde até pra ser fazer um interurbano precisava de auxilio de uma telefonista, fazer uma ligação internacional precisa agendar dia e hora acabou, o telex ficou pra trás, o fax também, então hoje com o advento da tecnologia esses caminhos foram ficando mais fáceis, temos uma comunicação de qualidade, veloz e instantânea.

Quando eu lecionava eu falava para os meus alunos como era “bonitinho” o mercado anteriormente, no final do ano todos ganhavam presentinhos, era lindo, mas com o crescente volume de negócios principalmente pela entrada de muitas pessoas no segmento, definitivamente o negócio mudou.

As agência que tinham um grande volume de negócios passaram a buscar uma otimização da sua remuneração e passaram a fazer uma série de serviços diretamente com os fornecedores, seja no Brasil ou no exterior, então ela passou a literalmente a operar seus produtos.

VOENEWS: Você está dizendo que aquele modelo onde de fato as operadoras tinhas preços e condições diferenciadas juntos aos fornecedores, onde comprar através das operadoras era um bom negócio devido as agências não terem as mesmas condições acabou ou está acabando ?

Carlos Vieira: Com certeza, hoje todo mundo tem tudo que todo mundo tem, então observe que as agências passaram a operar e as operadoras que não atendiam o cliente final passaram a atender, justamente por perceber que o seu cliente que era a agência passou a fazer um serviço que antes não fazia.

O mercado foi mudando, e as operadoras que antes só podiam vender através das agências hoje vendem direto, assim como as Cias. Aéreas realizam vendas diretamente ao cliente principalmente nos finais de semana com tarifas mais atrativas e no momento em que as agências de viagens estão fechadas.

Então se você parar pra pensar, antigamente no nosso setor tinha parceria, hoje nós não temos mais, além dessa oferta de passagens baratas nos finais de semana, as Cias Aéreas tem profissionais visitando diariamente os clientes corporativos de agências de viagens oferecendo preços e condições mais atrativos.

Se o agente de viagens mandar um hóspede para um hotel, principalmente esses de grandes grupos, ao fazer o check-in, antes mesmo do hóspede chegar no seu apartamento já recebe uma mensagem via e-mail informando que na próxima vez se ele comprar diretamente no site do hotel ele terá um desconto melhor do que o oferecido pela agência.

Isto é terrível, o hotel visita o agente de viagem, pede pra ele mandar o cliente pra ele, quando recebem o hóspede eles fazem um cadastro e oferecem condições e tarifas melhores do que a agência pode oferecer.

As locadoras de veículos também estão tendo essa mesma atitude e se você perguntar para qualquer um desses fornecedores eles irão dizer que trata-se de uma tendência mundial.

VOENEWS: Mas é ou não é uma tendência mundial essa questão dos fornecedores praticamente ignorarem a figura dos agentes de viagens e tentarem vender diretamente aos hóspedes ?

Depende do ponto de vista, pois essa tendência que eles alegam só está acontecendo no nosso setor, você não vê isso na indústria de medicamentos, você não vê laboratórios querendo abrir farmácias e destruir seus pontos de vendas.

Você não vê isto na indústria pneumática, você não vê isso na indústria de automobilismo, você não vê isso na indústria alimentícia.

Um exemplo que podemos mencionar também é da indústria de cimentos, a Votorantim não quer vender pro cliente final, se ele quiser comprar cimento vai ter que ir a uma loja de materiais de construção.

Esse tipo de atitude a gente só vê na área de viagens, trata-se de um setor que se alimenta de si mesmo e daqui a pouco não sabemos onde é que vamos chegar com este modelo que está sendo implementado.

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VOENEWS: Então vamos lá, se a Companhia Aérea quer vender direto, o hotel quer vender direto, as locadoras também querem atingir o consumidor final e até operadoras abrem lojas e vende direto, como que o senhor vê a questão da permanência de agência no mercado ?

Eu acho o seguinte, como já falei estou na área de 1985 e várias vezes já ouvi dizer que as agência iriam acabar, inclusive em 1990 quando lançaram o fax isto foi evidenciado, porque diziam que o cliente recebia o documento viajaria e pronto.

Quando surgiu o e-mail, disseram que os Correiros iriam acabar porque ninguém mais enviariam correspondências, no entanto os correio crescem a cada ano que passa.

O que eu vejo é que o modelo está mudando, e vamos passar a ter um modelo de agência muito mais pró-ativa, que seja incisiva na busca de resultados para o seu cliente, e terão de deixar este discurso choroso e as lamentações sobre o que e onde o cliente compra ou deixa de comprar.

As agência terão que ser um provedor de serviços de resultados de serviços de viagens.

Eu não acredito que isso se dará num modelo muito pequeno, pois a tendência de mercado é de atuação de grandes grupos, sejam eles farmacêuticas ou automobilísticos, o que vemos são essas áreas se unindo justamente para poder sobreviver.

Então o negócio é reduzir custo e aumentar mercado porque você não se junta com alguém apenas para reduzir custos, ninguém se casa apenas para morar junto e economizar o aluguel, os casamentos são para definir projetos de crescimento mútuo, então eu acho que isso vai acontecer na nossa área em várias escalas, e as agências terão que buscar parcerias e uma outra forma de tocarem o seu negócio, que vai acabar não creio, mais que vai mudar tenho certeza, principalmente porque a tecnologia nos obriga a isso, os resultados contábeis e financeiros vão te condicionar a isso.

Quem se acomodar com o tamanho que se encontra está fadado ao fracasso, porque isto não existe, estamos falando de negócios e se você ficar parado você morre, pois dentro deste contexto você já ficou pra trás.

Então a ideia é de que você esteja sempre um passo a frente e consiga oferecer ao seu cliente algo que os demais não estão oferecendo.

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VOENEWS: PAra finalizamos esta entrevista, gostaria de saber se o senhor enquanto presidente da ABAV-DF gostaria de deixar uma mensagem para os agentes de viagens, associados ou não que terão acesso a esse material.

Carlos Vieira: Primeiramente gostaria de ressaltar que dentro de uma sociedade organizada, uma sociedade evoluída, todos os seguimentos econômicos tem um representante, no caso das agências de viagens é a ABAV, agora se a ABAV é boa ou não é uma avaliação muito individual.

O agente de viagem precisa ter consciência de que a ABAV fala por ele, vou dar o um exemplo como entidade do Distrito Federal, mas serve á nível nacional pois quando nos reunimos com os demais representantes as reclamações são muito similares.

Os agentes costumam dizer que a entidade não faz nada, eu quando vou a algum evento costumo receber reclamações principalmente de quem não é associado á ABAV! Normalmente eu pergunto se o reclamante é associado a ABAV, a resposta normalmente é não, então eu digo que ele pode se associar que eu como presidente lhe darei um cargo na direção da entidade e ele poderá fazer tudo aquilo que ele sugere.

Mas a resposta novamente é quase sempre a mesma: eu não posso, eu não tenho tempo, estou muito atarefado com meus negócios! Lamento não poder participar… Então, a associação serve para representar aquela categoria, agora se ela é boa ou ruim que é uma avaliação de cada um, é justamente porque a categoria é boa ou ruim.

Como alguém pode cobrar de uma entidade a qual não faz parte? É possível você frequentar um clube ao qual você não paga? Você pode falar mal do Botafogo se você torce pro Flamengo ? Definitivamente: Não.

Você usa o seu cartão de crédito sem pagar?

Ratificando o que falei no começo, nós transformamos a ABAV num verdadeira associação, a entidade deixou de ser um clubinho e qualquer agência de viagem que desejar se associar basta encaminhar os documentos e não terá nenhuma burocracia. Será um associado e poderá inclusive exercer um cargo dentro da entidade, pois a ABAV está de portas abertas. Mas o que não dá é ficar escutando um monte de gente reclamando, se nem mesmo fazem parte da entidade e quando são convidados a fazer parte se negam.

Então, eu espero que neste processo de amadurecimento os agentes de viagens procurem se representar, e posteriormente cobrar dos seus representantes, porque para que se possa falar em nome da associação é necessário que se faça parte dela.

VOENEWS: Com relação as informações para se associar, os documentos necessários estão disponíveis no site da ABAV ?

Carlos Vieira: Em virtude de termos feito uma parceria com o SEBRAE o site da entidade está sendo reformulado, acredito que esteja pronto até o término do Carnaval.

Mas para se associar a documentação é contrato social, CNPJ, Cadastur, documentos dos sócios e uma carta assinada por um dos representantes legais solicitando a filiação, a contribuição é no valor de R$ 98,00 (Noventa e oito reais) que é utilizado para pagar os custos administrativos e de funcionário para mantermos a associação e por ventura realizar alguma ação.

E pra quem insiste em falar que a ABAV não faz nada gostaria de ressaltar que fazemos sim, estamos presentes constantemente na Câmara dos Deputados, no Senado Federal um pouco menos , estamos em reuniões constantes com os principais órgãos oficiais do turismo, somos membros participantes do CONDETUR – Conselho de Desenvolvimento do Turismo do DF, Convention Bureau e participação em diversos fóruns e instâncias representativas.
Sugiro que todos os agentes de viagens deveriam procurar se associar, de forma que possam participar das ações e também da gestão da entidade!

Reitero que todos os agentes de viagens deveriam primeiramente procurar se associar de forma que possam participar das ações e também da gestão da entidade, e quem sabe um dia chegar até mesmo a presidência da entidade.

Muito obrigado e vamos em frente.

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