Evento foi nesta quarta-feira, dia 29, e reuniu autoridades e especialistas
Segurança é um problema de toda a sociedade, não apenas das forças policiais. Essa foi a tônica da 19ª edição do tradicional Fórum de Segurança organizado pelo Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município (HotéisRIO), a Associação Comercial e Industrial do Recreio e das Vargens (ACIR) e o jornal Correio da Manhã. O encontro, no Ramada Recreio Shopping, reuniu autoridades para debater “Mudanças de paradigma no combate à criminalidade urbana”.
Na abertura, o deputado estadual e presidente da Alerj, André Ceciliano, ressaltou que o problema de segurança possui raízes muito antigas. “Alguns estudiosos atribuem ao fato de a cidade ter deixado de ser Capital Federal; outros acreditam em uma piora da renda após a fusão com o estado da Guanabara. Acontece que nossos parlamentares em Brasília debatem os problemas do país e se esquecem dos nossos”. Um exemplo, segundo ele, é a questão do aeroporto do Galeão, que teve dois terços de seus voos transferidos para o Santos Dumont para deixar este mais atraente para uma licitação. “Nossos representantes deveriam ter se manifestado de forma veemente”.
O presidente da Alerj deixa claro que a insegurança impede a chegada de investimentos. “Quem vai querer montar um negócio e, além dos impostos, ter que pagar à milícia? O orçamento da segurança é o dobro da educação, quando deveria ser o contrário. O confronto contra as drogas é uma guerra que o mundo todo perdeu. Temos que debater os problemas do Rio e buscar outras alternativas”.
O primeiro painel foi comandado pelo promotor de Justiça titular do IX Jecrim (Juizado Especial Criminal da Barra da Tijuca), Marcio Almeida, com a palestra “A importância da atuação e as melhores soluções no enfrentamento aos pequenos delitos”. Para ele, estar em um fórum como esse é poder entender melhor como sua função pode contribuir para a sociedade. Almeida disse que o primeiro passo consiste em cuidar dos registros dos crimes e isso depende de as pessoas entenderem a importância dessas comunicações para a formatação de estratégias. O combate a pequenos delitos também é fundamental, pois muitas vezes escondem problemas maiores. “Bandidos se misturam às pessoas que passam esponja nos vidros dos carros nos sinais e aproveitam para assaltar. Investigações mostraram que guardadores de carros na orla tinham suas áreas delimitadas por quadrilhas, que ficavam com boa parte do que eles arrecadavam. Promover ordem nas ruas certamente contribui para o aumento da segurança”.
No segundo painel, o delegado Allan Turnowski, ex-secretário da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, apresentou a palestra “Mitos e verdades na Segurança Pública. O Rio de Janeiro tem solução!”. “Muita gente acredita que, quanto mais ações de inteligência a polícia efetuar, haverá menos confronto. As forças de segurança trabalham em três eixos – inteligência, investigação e ação. A verdade é que o número de confrontos diminui quanto mais forte for a polícia, simplesmente por sua capacidade dissuasória. Só uma polícia bem armada faz com que os bandidos decidam não enfrentá-la”.
Outro ponto importante para Turnowski é a ideia – errada – de que a liberação das drogas provocaria o fim da violência. “As pessoas têm que entender que a violência é resultado de uma disputa por territórios. Os traficantes aprenderam com os milicianos que cobrar taxas de moradores e comerciantes das áreas de comunidade é mais lucrativo e dá menos trabalho. Hoje, a venda de drogas responde por apenas 30% do faturamento dessas quadrilhas”. Segundo ele, a saída passa pela modificação da legislação. “Em uma ocasião o STJ liberou um flagrante de um motociclista que carregava cocaína e uma balança de precisão em uma mochila com o argumento de que não havia justa causa para fazer uma abordagem. Precisamos garantir que as leis sejam feitas para proteger o cidadão, e não o criminoso”.
O jornalista Rael Policarpo, da Rede Record, parceira do evento, fechou o ciclo de debates falando sobre “A Importância dos meios de comunicação no combate à criminalidade”. Para ele, a segurança pública não é responsabilidade apenas da polícia. A imprensa precisa jogar luz nas causas da violência e não apenas nas consequências. “O grande desafio como jornalista é fazer o trabalho sem romantizar o crime. A mídia tem influência tanto no aumento quanto na redução da criminalidade – tudo depende da forma como as notícias são passadas. A gente estimula a violência quando coloca no pedestal alguns criminosos, uma glamourização do crime”. Outro problema, segundo Policarpo, é a impossibilidade dos jornalistas de irem às comunidades, mesmo que seja para cobrir outras pautas. “Já faz algum tempo que não entramos nas comunidades para fazer matérias sobre, por exemplo, infraestrutura. Isso prejudica a população desses locais. E ainda dificulta o conhecimento da região pelos jornalistas”.
Para Cláudio Magnavita, vice-presidente da ACIR e jornalista do Correio da Manhã, é muito relevante a presença de autoridades públicas em um fórum organizado pela iniciativa privada. “As autoridades vêm ouvir nossas demandas. Fica ainda melhor com a interação com o público”. Magnavita concordou com Policarpo sobre a forma com a qual algumas matérias retratam a situação carioca. “Determinadas matérias que a mídia apresenta são muito prejudiciais à imagem da nossa cidade e acabam afastando os turistas. Temos que mostrar bons exemplo, o trabalho das forças de segurança na defesa do cidadão”.
Ney Suassuna, presidente da Acibarra, acredita que boa parte da responsabilidade pela situação do Rio às escolhas feitas nas urnas. “A culpa é nossa. A saída é escolher bem quem nossos candidatos e, depois, cobrar dos eleitos. A política é um componente muito importante dessa equação”.
O presidente do HotéisRIO e da ACIR, Alfredo Lopes, ressaltou que no próximo ano o fórum completará 20 anos. “Durante essas quase duas décadas conseguimos o envolvimento da comunidade, de empresários. Nossa cidade tem solução, depende do envolvimento de cada um de nós. O seminário não acaba aqui: vamos criar um grupo de trabalho envolvendo as regiões da Barra, Recreio, Vargens e Jacarepaguá para buscar soluções”.