Foco da edição foram os grupos de trabalho de segurança operacional, que têm influência internacional
Nos dias 25 e 26 de outubro, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) promoveu a 8ª edição do Safety Management Summit – SMS Brazil, principal evento de safety no país. Autoridades e a indústria da aviação civil se reuniram para debater experiências e melhores práticas em segurança operacional no Bourbon Ibirapuera Convention Hotel, em São Paulo (SP). O encontro contou com a presença de cerca de 200 pessoas.
Os diretores da ANAC Luiz Ricardo Nascimento e Rogério Benevides participaram da abertura do evento com representantes das principais empresas aéreas brasileiras. Benevides enfatizou que a principal missão da ANAC é o safety. Luiz Ricardo complementou que o SMS é um momento ímpar à aviação para poder debater sobre o tema. “A gente precisa fazer safety, que não é um destino, é um sentimento, uma jornada. Safety é composto por várias ações para transportar pessoas em segurança”, afirmou.
Segundo Luiz Ricardo, nesta edição, o foco são os grupos de safety, como o Grupo Brasileiro de Segurança Operacional de Helicópteros (BHEST) e o Grupo Brasileiro de Segurança Operacional da Aviação Comercial (BCAST), e a contribuição deles para o cenário internacional.
Primeiro dia de palestras
O primeiro painel de palestras foi sobre o Portal Único de Notificação, canal oficial do Estado Brasileiro para reportes mandatórios e voluntários de segurança operacional. ANAC, Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apresentaram o histórico da criação, os normativos próprios de cada órgão e as perspectivas futuras sobre a ferramenta.
O chefe da Assessoria de Segurança Operacional da ANAC, Bernardo Tomaz de Castro, explicou a legislação da Agência e a cultura de regulação positiva da instituição com estímulo do compartilhamento de dados e da criação do ambiente confiável, já que os reportes são utilizados com fins de implantação de melhorias.
O último painel da manhã focou no desenvolvimento e na implementação do Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional (SGSO) para organizações de design e fabricação. Segundo os palestrantes, estão sendo realizados estudos com a indústria e a previsão é de que tenha uma proposta de regulação até 2024.
No período da tarde, na palestra sobre Systems Thinking para a Segurança Operacional na Aviação Civil, o servidor Ronaldo Gamermann explicou que o pensamento sistêmico é complexo, com interações não lineares e imprevisíveis, indo além da simplicidade da ideia de causa e consequência, e que há muitos elementos conectados. Segundo o servidor, segurança não é ausência de acidente, mas é algo que está sempre fazendo dar certo. “É a resiliência. O foco não é a ideia simples de evitar o acidente, mas entender o que faz dar certo”, afirmou.
Na apresentação seguinte, do Grupo Brasileiro de Segurança Operacional da Aviação Comercial (BCAST), foi apresentado o trabalho do subgrupo Grupo LOC-I (Loss of Control In-Flight, ou “perda de controle durante o voo” em português) sobre o impacto do voo manual na segurança de voo. O BCAST lançou em julho deste ano um boletim informativo que analisa o impacto do voo manual na segurança operacional, além de apresentar recomendações e práticas para abordar o tema entre o pessoal das empresas aéreas.
Logo depois, o representante do Grupo Brasileiro de Segurança Operacional de Helicópteros (BHEST), Reynaldo Ribeiro, tratou da gestão das ameaças na operação, na qual é feita uma análise de riscos na fase da preparação, para aumentar o conhecimento das circunstâncias e reduzir o número de acidentes.
No final do primeiro dia, foram realizados um painel sobre a operacionalização do Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO) nas organizações de manutenção, regidas pelo Regulamento Brasileiro de Aviação Civil n⁰ 145, e um debate com representantes da indústria.
Segundo dia de palestras
A Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA) iniciou o ciclo de palestras do segundo dia falando de liderança na aviação. O foco foi na diferenciação entre chefia e liderança e no debate sobre como a quantidade de líderes na cadeia da aviação pode melhorar o sistema.
Em seguida, representantes do Grupo Brasileiro de Segurança Operacional da Aviação Geral (BGAST) abordaram os fatores humanos na instrução e indicaram a necessidade de instrução sobre esses fatores na formação de pilotos. A intenção é conscientizar sobre os fatores para evitar acidentes. O presidente do BGAST aproveitou o painel para falar do lançamento do site do grupo
No painel sobre Inovações em treinamentos para a aviação civil, os palestrantes falaram sobre como as ferramentas tecnológicas são aliadas em treinamentos e auxiliam a diminuir custos e aumentar a eficácia e eficiência, a exemplo da realidade virtual para a imersão do aluno ou da realidade aumentada para compreender o funcionamento do maquinário.
Além dessa finalidade, a tecnologia também tem sido implementada no trabalho para aumentar a segurança operacional, aspecto que foi apresentado pelo Grupo Brasileiro de Segurança Operacional de Infraestrutura Aeroportuária (BAIST). O grupo mostrou a aplicação de novas tecnologias no dia a dia da segurança operacional e deu como exemplo o uso de drones nos aeroportos para realização de atividades como inspeção de pátio e pista para verificação de condição de pavimento, condição de sinalização etc. Alguns dos benefícios são o baixo custo operacional e aumento de banco de dados mais acurado.
Visão integrada da segurança operacional
O diretor-presidente da ANAC, Tiago Pereira, abriu o ciclo de palestras da tarde do segundo dia do SMS indicando a importância dos grupos brasileiros de segurança operacional, que contribuem para o trabalho técnico da Agência. Ele afirmou que a Agência quer ouvir sugestões dos presidentes dos grupos para aumentar a segurança. “Somos reconhecidos internacionalmente pelo gerenciamento de segurança operacional e queremos melhorar ainda mais. O SMS Brazil traz, para todo mundo que trabalha no setor, uma visão integrada da segurança operacional”, completou o diretor-presidente.
Na sequência, o coordenador da Assessoria de Segurança Operacional da ANAC e membro do BCAST, Paulo Nakamura, abordou o trabalho de compartilhamento de dados de segurança operacional. De acordo com Nakamura, a partir de informações compartilhadas, será possível identificar novas prioridades a serem tratadas pelo grupo.
Para debater o tema fadiga na aviação regular, o painel foi dividido em dois blocos. No primeiro, representantes da Gol, da Azul e da Latam compartilharam como o gerenciamento de fadiga é feito por cada uma das companhias. As linhas aéreas buscam, ao mesmo tempo, realizar ações preventivas a partir de pesquisas e estudos, como também implementar soluções a partir de lições aprendidas e, também, por análises de dados.
Já no segundo bloco, a especialista em regulação de aviação civil da ANAC Isabela Tissot explicou a pesquisa que realizou com pilotos de linhas aéreas brasileiras para avaliar o impacto do sono, da fadiga e da percepção de sonolência. Finalizando o evento, o servidor Ednei Amaral apresentou o grupo de trabalho sobre o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil n⁰ 117, que dispõe sobre os requisitos para gerenciamento de risco de fadiga humana e as atualizações regulatórias sobre o assunto na Agência.