Esse é o número de dias de separam a oficialização — pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — de início da pandemia e fim da emergência sanitária global da COVID-19. Isso significa que o vírus não é mais uma ameaça sanitária global depois de três anos com medidas protetivas.
Em que pese a questão humanitária, com 6,5 milhões de mortes de pessoas oficialmente atribuídas à COVID-19 (números que divergem dos quase 20 milhões, segundo estimativa da própria OMS), muito tem se falado sobre os impactos econômicos, desafios e próximos passos para o pós-pandemia — termo que, na prática e ainda que de forma equivocada, já vem sendo adotado desde o ano passado.
A indústria do turismo, que movimenta mais de 50 setores econômicos (aviação, hotelaria, alimentos e bebidas, locação de veículos, lavanderias, parques e muitos outros), foi duramente afetada e vem, também desde o ano passado, mostrando sinais de recuperação.
Para saber o que muda — e se muda — no dia a dia da indústria, ouvimos executivos experientes nesta indústria. Confira cada uma delas:
Luciano Bonfim, diretor Comercial da Vital Card, reforça que, de modo geral, “o impacto é baixo porque os brasileiros já estavam viajando desde a flexibilização em vários destinos”. Ainda assim, ele reforça que acredita que o anúncio vá apressar a tomada de decisão de quem ainda não se sentia confortável. “É possível que, em alguns casos, esse anúncio apresse a tomada de decisão para programar as férias de julho e de dezembro, ou as iniciativas corporativas”, diz. No entanto, o executivo destaca a mudança de posicionamento do seguro, que hoje figura entre os cinco principais itens na hora de organizar a viagem. “Acreditamos que houve uma mudança efetiva no hábito de adquiri o seguro-viagem pelo viajante, principalmente na importância do seguro-viagem em relação a custo x beneficio”, reforça Bonfim.
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Ana Santana, diretora das empresas Schultz Brasil, destaca que o mercado já vem em uma curva ascendente de aquecimento desde 2022 e que, este ano, o número de embarques pelas empresas Schultz vem registrando recordes históricos. “As vendas já estavam muito boas, mas agora, com o fim da emergência de saúde pública internacional decretado pela OMS na última semana, certamente a demanda aumentará e estamos prontos para atender. É preciso considerar que estas vendas serão impulsionadas pelo fim de restrição de entrada em países como Estados Unidos, que vão deixar de solicitar comprovação de vacina contra Covid-19 a partir do próximo dia 12″, reforça a executiva.
Para Fernando Kanbara, gerente-geral do Grand Mercure Curitiba Rayon, “o impacto de curto prazo é a normalidade que, para mim, é o principal ponto. Hoje conseguimos realizar todos os eventos e alcançar a capacidade máxima dos espaços do hotel (eventos, restaurantes). Com isso, a receita tem voltado ao normal”, diz, complementando que nos médio e longo prazos, o principal efeito é o de uma previsibilidade maior nos cenários de controle, especificamente de uma demanda mais normalizada. “Ainda existe uma tendência natural de mais viagens de carros por conta dos aumentos de custo com passagens aéreas. Penso que essa normalidade no médio prazo deve voltar a ocorrer. No entanto, entendo que o principal efeito a longo prazo é o retorno dos eventos presenciais, como grandes convenções com mais de 300 pessoas. Isso é muito positivo para nós. O turismo precisa desse respiro e dessa normalidade”, reforça.
Como nem tudo são flores, há quem se preocupe com a tendência de perda de espaço no turismo nacional. “A gente estava com uma performance muito boa nos destinos domésticos, com uma circulação muito forte pessoas e parte delas já está optando por retomar as viagens internacionais ou até encontrando opções de custo-benefício mais vantajosas pelo desafio do valor do aéreo no Brasil”, diz João Cazeiro, diretor de Desenvolvimento da Livá Hotéis & Resorts, primeira administradora e gestora profissionalizada de multipropriedade.
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Para Hiram Della Croce, diretor de Operações para Brasil e Bolívia da Wyndham Hotels & Resorts, “essa formalização traz a certeza de que superamos essa fase pandêmica e seguimos seguros. No entanto, o turismo e a hotelaria já vêm apresentando recuperação desde o começo de 2023, sendo que em algumas praças já conseguimos superar os níveis de 2019 — na pré-pandemia. Essa formalização traz ao viajante mais tranquilidade e com isso temos a expectativa de um fluxo mais aquecido seja para viagem a lazer, seja para viagens de negócio”, diz.
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Do ponto de vista prático da operação, Gabriel Fumagalli, CEO e co-fundador da Xtay — plataforma digital de moradia multistay, que opera em sistema de short e long-stay –, destaca que “continuaremos com os mesmos critérios de limpeza nos apartamentos e com o uso de álcool gel nas dependências das unidades Xtay por ajudar a evitar qualquer outro tipo de gripe ou virose. Em relação a tecnologia, nossa proposta é prover hospedagens sem burocracia, sem contato e com interações 100% digitais, por isso contamos com um check in/ out automatizado por meio de nosso App para que o cliente tenha privacidade e uma autonomia maior de ir e vir sem contato físico com a portaria”.
Para Caio Calfat, presidente da ADIT Brasil, o anúncio feito é uma confirmação de algo que, simbolicamente, já existia. “O impacto, se acontecer, vai ser pequeno porque o mercado já estava flexibilizado — neste sentido, a retirada total das máscaras foi mais impactante do que esta medida que, em nossa avaliação, é a confirmação de uma situação que já era vivida pelo mercado, com exceção de alguns pequenos grupos de turismo, entre os quais os mais idosos. Essa é uma realidade que começou em 2022 e já vem sendo sentida fortemente deste o início deste ano”, diz.