Região da Serra do Itaqueri é hoje a terra do jaracatiá, fruta pouco conhecida e que compõe pratos deliciosos
Comer é bom e todos nós sabemos disso. Comer algo diferenciado acaba sendo melhor ainda. E quando a comida é boa, encontramos todos os espaços disponíveis no estômago para degustar ao máximo, não se importando com as consequências. Mas, para que falar de consequências né? Aqui nós vamos focar em uma fruta peculiar, que apesar de encontrar seu habitat pelo Brasil todo em meio a Mata Atlântica, hoje está mais presente na região de São Pedro. Estamos falando do jaracatiá, que hoje rende até barbecue para acompanhar costelinha servida na Serra do Itaqueri.
O jaracatiá por fora se parece com mamão papaia e, por dentro, com um maracujá: a polpa é amarela e viscosa e tem muitas sementes. O sabor, bom, esse só experimentando mesmo. Porém, é preciso fazer um alerta. Não se come o jaracatiá in natura porque o “leite” da fruta queima as mãos, a boca e os lábios. Ela é agressiva, parece até que algo divino quer nos impedir de comer, mas quem enfrenta esta adversidade e come, garante que é muito saborosa.
Toda essa complexidade talvez renderia um quadro por parte do pintor italiano Caravaggio ou, quem sabe, a fruta poderia figurar no chapéu da Carmen Miranda. A realidade é que o jaracatiá, tão presente em São Pedro, ganhou seu próprio festival na cidade, que apresenta diversas receitas que levam a fruta como base ou complemento. O preparo mais conhecido com o jaracatiá é o doce, que não é algo fácil de ser feito. O processo envolve lavar a polpa da fruta para retirar o “leite”, aferventá-la e, depois, adicionar o açúcar e levar ao fogo novamente.
As compotas de doce de jaracatiá eram produzidas largamente pelas doceiras da região, mas esta tradição foi desaparecendo, acompanhando o envelhecimento da população e das cozinheiras mais antigas. Por isso, o surgimento do festival, criado para revitalizar a tradição. Utilizando como base o doce do jaracatiá, a proprietária do restaurante Oficina do Churrasco, Juliana Saia, criou o molho barbecue de jaracatiá.
O produto foi um desafio da Prefeitura de São Pedro para outro festival, o Festival Gastronômico da Serra do Itaqueri, e acabou se tornando um dos pratos principais do estabelecimento. “A prefeitura pediu pra gente fazer um prato salgado com o jaracatiá, aí criamos o molho. Para deixar o doce jaracatiá do jeito certo, demora cinco dias. Só depois que produzimos o molho barbecue”, conta Juliana. O molho barbecue de jaracatiá acompanha a costelinha, também produzida pela Oficina do Churrasco e que também exige um longo tempo de preparo – são 48 horas para deixar a costela pronta. Os dois são vendidos juntos para diversos locais da região e para quem encomendar. O empreendimento da Juliana é a primeira churrascaria delivery da Serra do Itaqueri.
Além do molho barbecue, o Festival do Jaracatiá já teve muitas novidades envolvendo a fruta, inclusive pizza. Além disso, os produtos produzidos com o jaracatiá podem ser encontrados em diversos estabelecimentos pela cidade. Com essa diversidade gastronômica, o pecado da gula com certeza será perdoado, é só visitar o Parque do Cristo depois. Se conseguir andar.
Festivais
A região da Serra do Itaqueri tem uma movimentação gastronômica muito forte, mas a pandemia afetou diretamente este setor, provocando a paralização total dos festivais em 2020 e 2021. Em São Pedro, o Festival do Jaracatiá costumava acontecer na época do aniversário da cidade. A prefeitura do município ainda não tem data definida para a realização da próxima edição. Já o Festival Gastronômico da Serra do Itaqueri chegou a acontecer até duas vezes por ano e passou pelas cidades de Águas de São Pedro, Torrinha, Analândia e Piracicaba. A expectativa dos organizadores e participantes dos festivais é de que eles sejam retomados em 2022.