“Em nossa opinião, em até noventa dias, a Azul pode fazer uma proposta para adquirir as operações domésticas da Latam Airlines Brasil. Os credores da Latam podem solicitar que esta alternativa seja incorporada ao plano de reestruturação a ser apresentado nos procedimentos de recuperação judicial até 30 de junho e a ser votado até 23 de agosto”, avaliam os analistas, que veem a fusão entre as companhias como “muito provável”.
Os papéis da Latam Airlines negociados nos EUA também tiveram a recomendação elevada de underperform (desempenho abaixo da média) para neutra, assim como o preço-alvo foi elevado de US$ 1 para US$ 3, o que configura um potencial de valorização de 5% em relação ao fechamento da sexta-feira.
Para Victor Mizusaki e Pedro Fontana, analistas que assinam o relatório, as sinergias com a potencial fusão poderiam alcançar um valor presente líquido (VPL) de R$ 9,5 bilhões para a Azul, representando R$ 19 por ação. Isso levando em conta que as operações domésticas da Latam Brasil tenham avaliação de US$ 822 milhões.
De acordo com eles, os ganhos de sinergias podem chegar a 5% das receitas combinadas, baseando as avaliações nos ganhos de sinergia de oito operações do gênero recentes no setor. Olhando para o cenário mais pessimista com a fusão, o piso de sinergia seria de 2,7%, o que ainda representaria um aumento de R$ 14 para os ativos da Azul, destacam.
Cabe ressaltar que, em relatório do final de maio, o Itaú BBA apontou que, olhando para uma possível fusão entre Azul e Latam, essas sinergias poderiam levar a um valor adicional entre R$ 5,60 e R$ 27,90 por ativo AZUL4 para os atuais acionistas, pressupondo uma operação baseada em ações. Assumindo a economia decorrente de uma fusão, os analistas calcularam as sinergias como uma proporção das receitas combinadas da nova empresa entre 1% e 5%. Com base nessa faixa de sinergia, estimam que um negócio entre a Azul e a Latam resultaria em um valor incremental de valor da firma entre R$ 2,5 bilhões e R$ 12,5 bilhões. Eles também fizeram análise de sensibilidade para uma possível fusão entre Azul e Gol (GOLL4) (veja mais clicando aqui).
Já o Morgan Stanley está mais pessimista, vendo grandes obstáculos para a união das operações, ao apontarem que a administração da Latam já foi bastante incisiva ao dizer que não está interessada em vender sua operação no Brasil para a Azul.
Para os analistas, esse parece ser um grande obstáculo, considerando que deve refletir a posição de alguns ou de todos os principais acionistas da Latam, como a família Cueto, que também faz parte de um dos grupos que forneceu o financiamento DIP (“debtor in possession”) – ou seja, credores que possuem preferência quando a Latam começar a pagar suas dívidas da recuperação judicial.
A estratégia da Azul para adquirir os ativos da Latam é se organizar com os arrendadores de aviões credores do grupo chileno. Para que a estratégia tenha sucesso, é necessário que a Azul obtenha um consenso com os credores da Latam que ajudaram a compor o programa DIP da empresa.
Além disso, apontaram os analistas do Morgan, não está claro se a Azul irá de fato apresentar uma proposta competitiva para adquirir a operação da Latam no Brasil como parte do processo do capítulo de recuperação judicial da companhia aérea chilena, e um desafio importante está relacionado ao tempo. Isso porque qualquer proposta que a Azul fizer dependerá da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), enquanto o período de exclusividade para apresentar o plano de reorganização da Latam se estende até 30 de junho de 2021.
A recomendação atual do Morgan Stanley para os ADRs da Azul é underweight (exposição abaixo da média do mercado), com preço-alvo de US$ 17 (ou queda de 36% em relação ao fechamento do dia 4 de junho). Os analistas também possuem recomendação underweight para a ação da Latam Airlines negociada nos EUA, com preço-alvo de US$ 3,50, o que ainda configura uma alta de 22,8% em relação ao último fechamento.