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Em crise, CVC busca o “perdão” de investidores

A CVC Corp, operadora de viagens com sede em Santo André, convocou investidores para assembleia em 3 de julho. Objetivo é evitar vencimento antecipado dos papéis após descumprir prazo legal para divulgar o balanço financeiro de 2019 e o do primeiro trimestre deste ano. A divulgação de resultados faz parte do compromisso, chamado de covenant, assumido quando a companhia vendeu as debêntures. Assim, o perdão, conhecido como waiver, dos investidores é essencial para a sobrevida das finanças da empresa.

Conforme o Diário tem acompanhado, a publicação dos resultados referentes a 2019 foi postergada por três vezes e, descumprindo até mesmo a prorrogação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a expectativa é que os números sejam divulgados até 31 de julho. Erros contábeis e a pandemia do novo coronavírus são as justificativas da companhia para os adiamentos, que podem ocasionar multa de R$ 1.000 por dia de atraso. Ainda, segundo o último dado divulgado, a dívida líquida da CVC era de R$ 1,5 bilhão.

Assim, caso os debenturistas não aceitem a proposta, o vencimento antecipado dos papéis podem custar a sobrevivência da CVC. “A empresa não deve ter caixa para pagar antecipadamente, então é interessante chegar a um acordo, pois garante a sobrevivência da companhia e, embora tenham contrato, os credores podem não receber, já que a empresa não teria como pagar. Seria prejuízo para ambas as partes”, explicou Alexandre Evaristo Pinto, coordenador do MBA de IFRS (normas internacionais de contabilidade) da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).

“Todos os prazos são negociáveis, e o que os debenturistas precisam ter em mente é que eles também podem perder muito. A questão é saber que a empresa passa por dificuldades, tanto por problemas de gestão quanto por causa da pandemia, e é uma situação muito delicada, tem de haver muita negociação para a empresa poder arcar com o débito sem descapitalizar demais e acabar quebrando”, avalia Ricardo Kawai, mestre em finanças e pesquisador do Conjuscs (Observatório de Empreendedorismo, Políticas Públicas e Conjuntura da Universidade Municipal de Sâo Caetano).

Por exemplo, se inicialmente os papéis venceriam em julho de 2021 com rendimento de 5% ao ano, a quebra do convenant dá direito para que os investidores solicitem o pagamento do valor investido acrescido do juros em até seis meses, ou seja, até dezembro deste ano. Porém, caso a empresa não tenha condições de arcar com o pagamento antecipado e as partes não cheguem a acordo, a companhia pode entrar com pedido de recuperação judicial ou os credores pedirem sua falência. Vale lembrar que as debêntures são títulos de crédito emitidos por instituições privadas a fim de obter financiamento para investimentos de diversas naturezas.

Outro agravante para que a operadora de turismo arque com os compromissos é o fato de que, quando os papéis foram vendidos, as taxas estavam favoráveis à empresa considerando o nível da Selic, atualmente em 2,5%. À época, representava de 108% a 111% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e hoje, são negociados em cerca de 300% do CDI, conforme publicado pelo Valor Econômico.

A CVC Corp convocou a assembleia por meio de publicação aos investidores feita na última quinta-feira. Estão convocados os debenturistas das segunda, terceira e quarta emissões de títulos. A companhia não se posicionou até o fechamento desta edição.

Companhia pode precisar de outra negociação com credores

De acordo com informações do Valor Econômico, a CVC Corp precisará recorrer a segundo perdão por desrespeito a outro compromisso assumido com os debenturistas, que estabelece que a relação entre dívida líquida e Ebitda (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, em português) deve ser igual ou inferior a três vezes. Uma vez que a companhia foi duramente afetada pela pandemia do novo coronavírus e ficou praticamente parada, não deve atingir tais índices.

Exemplo é que a empresa adotou, em abril, redução de 50% da jornada de trabalho dos colaboradores, além de cortar 50% dos salários de diretores executivos e conselheiros administrativos. Franqueados da CVC estimam que pelo menos 20% das 1.400 lojas do País não tenham sobrevivido à quarentena.

“A crise da Covid tem afetado de diversas maneiras, e o setor de viagens foi muito atingido. A Tam chegou a pedir recuperação judicial nos Estados Unidos”, afirma Alexandre Evaristo Pinto, coordenador do MBAde IFRS da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).

Fonte: Flavia Kurotori
do Diário do Grande ABC

24/06/2020 | 00:02

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