Os Estados Unidos receberam no ano passado 77,5 milhões de turistas internacionais, que deixaram lá uma receita de 216,86 bilhões de dólares. Estados Unidos e França disputam os primeiros lugares na preferência dos visitantes estrangeiros e em terceiro vem a Espanha. Esses países são exemplos para o mundo em razão da importância que dedicam ao turismo, atividade responsável por parcela expressiva de seu Produto Interno Bruto.
O Brasil recebeu 6,3 milhões de turistas internacionais no mesmo ano de 2015 – e convém lembrar que só Cancun, no México, recebe mais de dez milhões de visitantes internacionais ao ano. A receita brasileira com turistas estrangeiros chegou a apenas 5,844 bilhões de dólares. Claro que a comparação fica difícil, pois a França tem em seus vizinhos um fluxo de visitação enorme, e os EUA também estão mais perto da Europa e Ásia, além de seus dois vizinhos terem grande fluxo turístico.
Números tão irrelevantes deixam nosso País na 44ª posição no ranking da Organização Mundial de Turismo – numa relação de 50 países.
As diferenças são ainda mais reveladoras: enquanto aqueles países de Primeiro Mundo reforçam as iniciativas para atrair mais turistas, facilitando a entrada e dotando a indústria do turismo de ótima infraestrutura, o Brasil procura dificultar a vinda desses visitantes – os vistos, a burocracia e o Custo Brasil tornam muito mais difíceis as tentativas de conquistar mais visitantes.
O maior exemplo está nos Cruzeiros Marítimos: depois de um crescimento excepcional no mercado brasileiro até a temporada 2010/2011, essa atividade começou a declinar. As armadoras internacionais começaram a sentir os efeitos perversos da burocracia, dos custos, da insegurança jurídica e da tributação no Brasil e passaram a mandar seus navios para outros destinos, em que o ambiente de negócios é mais favorável.
Eis um bom exemplo de como se cuida do turismo lá fora: o presidente norte-americano Barack Obama visitou os parques da Disney, na Flórida, com o objetivo de fortalecer o turismo em seu país. E um dos alvos selecionados por Obama foi exatamente o turista brasileiro.
O governo dos EUA quer simplificar e acelerar o processo de visto para os turistas, além de incrementar um programa que facilite a liberação de viajantes pré-aprovados e que representem baixo risco para a segurança do país. Essas medidas fazem parte de uma campanha mais ampla, para mostrar que ele faz todo o possível para estimular a economia.
Uma frase do presidente deixou as coisas bem claras: “Todo ano, dezenas de milhões de turistas de todo o mundo visitam a América. E quanto mais gente vier, mais americanos voltarão ao trabalho”.
A Casa Branca informou que pretende estimular o turismo nos EUA, tendo como alvo a crescente classe média em países como China, Índia e Brasil. Visitantes desses países gastam em média entre US$ 5 mil e US$ 6 mil em cada viagem aos EUA.
O turismo representa 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano e garante 7,5 milhões de empregos. Mais de um milhão de empregos podem ser criados nos próximos dez anos, caso os norte-americanos ampliem sua participação no setor de turismo global, afirmou o presidente:
“Dirigi minha administração para enviar uma nova estratégia nacional de turismo focada na criação de postos de trabalho. Nós vamos ver como podemos tornar mais fácil para os turistas estrangeiros encontrar informações básicas sobre a visita na América. E vamos ver como podemos atrair mais turistas para os nossos parques nacionais. Quanto mais as pessoas visitarem a América, mais americanos voltarão ao trabalho. É simples assim”.
Simples também deveria ser o incentivo às atividades turísticas no Brasil, especialmente as que trazem mais divisas e abrem as portas para que os visitantes estrangeiros conheçam as belezas deste País, como o fizeram os milhares que vieram para a Copa do Mundo em 2014 e para as Olimpíadas deste ano. O Fórum Econômico Mundial destaca o Brasil como o Número Um no mundo no item de recursos naturais; isto significa alto grau de competitividade turística; e boa parte dos atrativos se concentra no litoral.
A temporada 2016/2017 dos Cruzeiros Marítimos no Brasil vai começar no dia 21 de novembro, com os mesmos entraves dos anos anteriores. Uma lista resumida:
- falta investimento nos terminais de passageiros;
- o investimento em píers para embarque e desembarque depende de muitos órgãos;
- há impostos afetando nossa competitividade – como ICMS para combustíveis ou PIS/Confins para combustíveis e fretamentos só para navios de cruzeiros;
- taxa para remessa de moeda estrangeira e ISS calculado por 30% por valor da cabine;
- vistos para tripulantes com altos custos e muito demorados;
- exigências descabidas de sindicatos nos portos;
- insegurança na justiça trabalhista;
- altíssimas taxas de embarque e desembarque, de trânsito e portuárias;
- serviço de praticagem custa quatro vezes mais no Brasil, em média.
De onde se conclui que os melhores exemplos do turismo no mundo não servem para o Brasil.
Mas é uma ótima oportunidade para o presidente Michel Temer – nessa sua missão de reencontrar o melhor caminho para a economia brasileira – seguir os passos de Barack Obama e reconhecer a importância do turismo para o nosso desenvolvimento.
* Marco Ferraz é presidente da CLIA Abremar Brasil – Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos