Nem tudo é má notícia neste início de ano. Segundo a Riotur, 857 mil turistas vieram ao Rio para o réveillon, injetando cerca de R$ 2,7 bilhões na economia da cidade. A taxa de ocupação dos hotéis foi de 90% na orla de Copacabana, Ipanema e Leblon — nos cinco estrelas, chegou a 98%. O resultado superou a expectativa da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), de 85% a 88%.
A alta do dólar ajudou porque brasileiros de outros estados deixaram de viajar para o exterior para romper o ano no Rio. E estrangeiros foram ainda mais atraídos à cidade pelo câmbio favorável. Gostaram, e uma parcela esticou estada por mais alguns dias.
A cotação do dólar, no entanto, não explica tudo. O sucesso do réveillon carioca é também resultado da experiência que a cidade vem adquirindo nos últimos anos, firmando-se como sede de grandes eventos. Estes exigem das três esferas de poder (municipal, estadual e federal) algum planejamento de longo prazo — prática que governantes de olho apenas na próxima eleição negligenciam —, sob o risco de expor a cidade a vexame internacional.
Houve uma sequência no aprendizado recente do Rio: em 2007, nos Jogos Pan-Americanos; em 2013, na Jornada Mundial da Juventude (JMJ); em 2014, na Copa; e, ano passado, mais um Rock in Rio — criado na cidade e que se estendeu para a Europa e os EUA, mostrando a força da marca carioca.
A JMJ pôs a cidade em teste, porque o Papa Francisco, ao se aproximar dos fiéis, não se importava com a segurança, para desespero dos responsáveis por sua integridade física. Além disso, o lamaçal causado pela chuva forçou a transferência da missa campal de Guaratiba para a Praia de Copacabana, para onde se deslocaram três milhões de fiéis, sem o registro de incidentes graves. A mudança de última hora indicou falha na organização, deixando a lição básica que não deverá ser esquecida: em grandes eventos ao ar livre, é preciso prever mecanismos de defesa para o caso de chuvas fortes, comuns no Rio. Em contrapartida, foi uma oportunidade de exercitar a adaptação a imprevistos. Um ganho de experiência para os eventos realizados posteriormente.
A expertise aprimorada a cada grande evento não pode ser desperdiçada, porque esta vocação da cidade a eventos é um eficiente multiplicador do poder de atração do Rio para os turistas em geral. E isso, é claro, não terminará nas cerimônias de encerramento das Olimpíadas e das Paralimpíadas deste ano.
É necessário investir ainda mais em treinamento de pessoal que lida com os visitantes, mobilidade urbana, segurança e conservação. Outros grandes eventos virão, gerando receita e empregos que os demais setores da economia — estrangulados pela crise — não estão conseguindo criar.
Fonte: O Globo