Projeto contará com investimento do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) e prevê o uso de recursos tecnológicos avançados para facilitar a vida de passageiros
A aprovação de um projeto no Congresso Nacional permitindo que empresas aéreas estrangeiras realizem transporte doméstico (cabotagem) é a ponta de lança para a construção de um novo aeroporto internacional no Nordeste, o que pode mudar o mapa turístico de toda a região. Se regulamentado, o projeto de Lei nº 4.392, permitirá que saia do papel o investimento em um hub aéreo de grande porte e alta tecnologia em alguma capital nordestina.
Anunciado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) durante o Fórum Turismo e Investimentos | Brasil 360°, realizado em 16 de setembro, em São Paulo, o projeto já despertou o interesse das lideranças estaduais. Presente ao evento, o governador da Paraíba, João Azevedo, afirmou que tem interesse viabilizar a construção do novo aeroporto internacional.
“A Paraíba vai concorrer para ter esse terminal voltado para o turismo e pode oferecer boas condições econômicas e fiscais”, disse Azevedo, que aproveitou o espaço para apresentar o mega Polo Turístico Cabo Branco, iniciativa com parques temáticos, roda-gigante e hotéis de grandes redes. O Fórum foi realizado pela RTSC — holding de investimentos com atuação nos setores financeiro, imobiliário e turístico — e a Qore Investimentos, em colaboração com a ONU Turismo.
“Precisamos de conexões mais econômicas”, explicou Oscar Rueda García, diretor de Turismo Sustentável do CAF, em sua participação no fórum, ao ressaltar que a conectividade é um desafio ao turismo na América Latina. “Queremos apoiar um aeroporto que seja sustentável e inovador, não apenas um espaço para voos. Parte será automatizada por robôs. É algo novo para o mundo, não apenas para o Brasil”, completou o secretário-geral da ONU Turismo, Zurab Pololikashvili, que presta consultoria para o empreendimento.
O novo aeroporto pode contar com incentivos do Programa de Aceleração do Turismo Internacional (Pati), iniciativa do governo federal voltada à promoção do Brasil nos mercados internacionais, com foco no aumento do fluxo de visitantes estrangeiros e na ampliação da conectividade aérea dos destinos brasileiros.
Por meio do programa, companhias aéreas brasileiras ou estrangeiras e aeroportos podem submeter projetos de novos voos diretos e regulares internacionais com o objetivo de acessar fundos promocionais e campanhas de divulgação do Visit Brasil (canais de comunicação digital).
A iniciativa também visa a estimular a sustentabilidade e a distribuição regional do turismo, ao incentivar voos para aeroportos localizados em destinos consolidados, mas com menor volume de assentos disponíveis, contribuindo assim para encurtar distâncias, reduzir emissões de gás carbônico (CO₂) e descentralizar o turismo, promovendo um desenvolvimento mais equilibrado.
Também há discussões no Congresso Nacional que podem favorecer o novo aeroporto nordestino. O Projeto de Lei nº 4.392, de 2023, propõe alterar o Código Brasileiro de Aeronáutica a fim de permitir que empresas aéreas estrangeiras realizem transporte doméstico (cabotagem) em voos com origem ou destino na Amazônia Legal.
Uma das possibilidades em negociação entre os parlamentares é a extensão da área de abrangência proposta no Projeto de Lei nº 4.392 para todo o Norte e o Nordeste. Dessa forma, companhias estrangeiras que operem voos internacionais para essas regiões poderiam transportar passageiros entre cidades brasileiras antes de retornar ao país de origem.
Entre os objetivos constantes no projeto, destacam-se a ampliação da oferta de voos, a redução dos preços de passagens nessas regiões, a melhoria da conectividade aérea e o acesso a serviços essenciais para comunidades isoladas, além do estímulo à concorrência no setor aéreo.
“A expansão da malha aérea vai ampliar a oferta de voos, reduzir e facilitar a mobilidade dos visitantes, tanto brasileiros quanto estrangeiros, mais um estímulo fundamental para aumentarmos o fluxo internacional para o Nordeste. Projetos como o novo aeroporto internacional são estratégicos para atrair investimentos, impulsionar o turismo e descentralizar o desenvolvimento econômico”, diz Marcos Jorge, CEO da RTSC.
“A conexão logística e a mobilidade hoje são gargalos fundamentais para conseguir destravar o turismo, tirar a pressão de alguns lugares e abrir outros destinos”, reforça a presidente executiva da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), Marina Figueiredo. Na opinião da executiva da Braztoa, uma das principais dificuldades do turismo nacional é a conectividade ruim entre cidades, resultado da soma de uma malha aérea limitada com a baixa cobertura de outros transportes modais por questões de infraestrutura.
A necessidade de melhoria das infraestruturas aeroportuárias é cada vez mais patente, sobretudo pelos sucessivos recordes observados no turismo brasileiro. Segundo o governo federal, a movimentação de passageiros em voos nacionais atingiu a marca de 8,7 milhões de viajantes em agosto de 2025, o melhor resultado para o mês desde o início da série histórica e, também, o marco de 12 meses de crescimento contínuo no setor doméstico.
O setor internacional também registrou a melhor movimentação para agosto, com 2,4 milhões de viajantes. No total, foram 11,2 milhões de passageiros nos aeroportos brasileiros, outro recorde para o mês. No mercado nacional, o fluxo cresceu 8,5% em relação a agosto de 2024, enquanto o crescimento do segmento internacional foi de 12,9%. Os números fazem parte da nova atualização do relatório de demanda e oferta da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que traz os dados do setor desde janeiro de 2000.