Vice-presidente da Abav, Leonel Rossi, também fala à DINHEIRO sobre a concorrência com os sites de vendas online
Por Luiz Gustavo PACETE
O setor de viagens não passou incólume ao atual momento da economia brasileira. No caso das agências de viagens, porém, o problema não está no impacto direto, ou seja, na redução da demanda por parte dos consumidores. O que tem afetado o segmento são as influências indiretas, como a redução de ofertas de voos por parte das companhias aéreas, a alta do dólar e, em alguns casos, a baixa disponibilidade de leitos em algumas regiões.
O principal motivo da redução de voos é a alta do dólar e a baixa margem para repassar os custos às passagens. Segundo a Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), a quantidade de rotas oferecidas por mês já caiu 4,2% em 2013, indo de 1.130 para 1.082, o que significa que 48 trechos deixaram de ser atendidos no Brasil.
Segundo Leonel Rossi, vice-presidente de relações institucionais da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV), a demanda pelos serviços no primeiro semestre de 2013 está estabilizada se comparada ao mesmo período do ano passado, quando o setor cresceu 5% nos pacotes internacionais e 4% nos nacionais.
Em entrevista à DINHEIRO, Rossi fala sobre o desafio do setor em oferecer variedade de pacotes com a redução de ofertas das aéreas, a concorrência com sites que disponibilizam serviços de viagens e o lançamento de novos destinos e roteiros pelo Brasil.
DINHEIRO – Como está o mercado de viagens em 2013?
Leonel Rossi – O ano de 2012 foi muito bom. Registramos crescimento de vendas internacionais de 5% e 4% das domésticas. Em 2013, a demanda está relativamente estabilizada. Não houve crescimento em relação ao ano passado, mas isso não quer dizer que foi ruim. Eu até acho bom, pois não houve retração considerando que o ano de 2013 não está sendo muito bom em termos econômicos.
O que mais preocupa o setor para os próximos meses?
A redução das ofertas por parte das companhias aéreas. Isso afeta, sobretudo o Nordeste. Com as reduções de voos, principalmente da TAM, nós ficamos sem opções nessas regiões. Isso atrapalha muito.
Isso poderia aumentar a movimentação do transporte rodoviário?
Acontece que nossas estradas ainda são ruins. Um trecho de mil quilômetros, entre São Paulo e o estado de Santa Catarina, ou a capital mineira Belo Horizonte, já não é viável fazer de ônibus. Hoje é muito difícil você imaginar aquelas viagens de dois, três dias para o Nordeste. Com estradas ruins, os custos acabam sendo altos porque os ônibus sofrem muito em função do custo elevado de manutenção.
A questão não se agrava quando falamos de trechos alternativos regionais?
No passado, nós até tínhamos mais voos regionais. Eram comuns trechos como Franca e Ribeirão, por exemplo. Agora, como os aeroportos regionais foram abandonados, o transporte regional aéreo ainda deixa a desejar.
O mercado conseguiu desenvolver novos roteiros e serviços nos últimos meses?
Eu destacaria o desenvolvimento do turismo ambiental e de aventura. Principalmente as pessoas mais jovens gostam muito desse tipo de turismo. Hoje temos várias agências especializadas neste segmento.
Não existe um déficit na criação de novos pólos?
Demora para você conseguir lançar novos destinos. Vamos pegar o exemplo das praias. Todo verão se descobre uma praia nova. Mas não se resume nisso. Ela até pode virar a praia da moda, mas não é economicamente viável. Demanda estrutura, tempo, instalação de pousadas. Até ela virar um pólo turístico demora e isso depende do governo, de investimentos e de outros fatores. Eu sempre cito como exemplo a cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, aquilo não era nada e hoje virou um pólo turístico.
De que maneira as empresas de viagens online estão prejudicando as associadas da Abav que prestam serviço tradicional?
É uma concorrência. Essas ferramentas vieram para ficar. Não adianta querer se esconder. Mas não podemos considerar que elas suprem o atendimento diferenciado das agências. Quando você procura uma agência vai conversa com as pessoas e não com as máquinas. Você até pode se comunicar por e-mail e telefone. Se quiser comprar uma passagem simples, sem problemas.
Por que o senhor considera que elas não suprem os consumidores?
Quando você quer comprar algo mais complicado ou quando teve um problema e quer pedir reembolso. Aí começa a dor de cabeça. As pessoas até podem achar que entrando num Decolar da vida vão comprar coisas mais baratas. Às vezes pode acontecer sim, mas tem várias taxas embutidas. Enfim, as pessoas se animam no primeiro momento com as agências online, mas depois acabam voltando para as tradicionais.
Fonte: Isto É Dinheiro