A Bahia estará presente como destino da 13ª edição da Transat Jacques Vabre, que tem largada no dia 5 de novembro, na cidade francesa de Le Havre, na Normandia. Pela primeira vez, um velejador baiano participará da maior regata transatlântica do mundo. Aos 34 anos, Leonardo Chicourel cruzará o Atlântico em direção a Salvador velejando em dupla com o angolano José Guilherme Caldas, que mora em São Paulo.
Em janeiro, os dois quebraram um recorde na categoria double hand, participando da regata Cape2Rio com um barco Class 40. Desta vez, porém, o desafio é maior: o percurso da Jacques Vabre é de 4.350 milhas náuticas (o equivalente a 8.056 quilômetros), enquanto a jornada marítima da Cidade do Cabo para o Rio de Janeiro é de 3.500 milhas.
Nascido em Itabuna e criado em uma fazenda de cacau, Chicourel trocou o kart pelo veleiro por influência do pai, ainda na infância e já morando em Salvador. Mais tarde, abandonaria a arquitetura e a engenharia para dedicar-se ao esporte náutico. Aos 23 anos, começou a trabalhar como deliver, fazendo transporte de veleiros. Foi assim que conheceu José Guilherme. “Comecei transportando o veleiro dele, mas eu já participava de competições”, lembra o velejador, ou skipper, como se chamam os praticantes do esporte.
Com o angolano, médico de profissão, ele competiria em dupla a partir de 2013, quando disputou a regata Recife-Noronha. Participaram da Cape2Rio pela primeira vez em 2014, mas foi o bom resultado obtido na edição de 2017 que os levou a se inscrever na Transat Jacques Vabre. “E é assim que estamos aqui”, disse Chicourel, em meio aos preparativos para a regata, pouco antes de seguir para Le Havre. A dupla competirá mais uma vez com um Class 40. No percurso de Norte a Sul, enfrentará obstáculos como os ventos do Canal da Mancha e a calmaria perto da linha do Equador, até chegar à Baía de Todos-os-Santos, a partir de 12 de novembro. Mas o maior desafio, segundo Chicourel, será o de superar a si próprios, já que, no caso da dupla, há outras dificuldades.
Para começar, tiveram de alugar um barco de última hora e com pouco tempo para prepará-lo. De segunda geração, é um veleiro mais lento do que os mais modernos que competirão. A falta de treino é outro agravante. “Não tivemos tempo, e o pessoal que corre na nossa classe é extremamente competente e experiente, vem treinando o ano todo”, explica o skipper.
Nestas condições, Chicourel encara a prova de forma realista, como uma oportunidade de adquirir experiência, apesar da imprevisibilidade do resultado. “Nossa intenção é largar e fazer um bom tempo, superar os nossos limites. Expectativa em termos de colocação, eu não tenho ideia”. A disputa envolve 42 duplas de várias nacionalidades e de quatro categorias: Class 40, Multi50, IMOCA e Ultime, com, respectivamente, 40, 50, 60 e até 100 pés.
Rota do Café – Disputada desde 1993, a regata Jacques Vabre tem a proposta de refazer as históricas trilhas comerciais entre a Europa e as Américas, conhecidas como Rota do Café. Le Havre foi a primeira cidade importadora de café na França, e Jacques Vabre é uma marca francesa do produto.
Os barcos largam de dois em dois anos de Le Havre para um país produtor de café. O Brasil é o país que mais recebeu a regata, seguido pela Colômbia e Costa Rica. Salvador foi o destino entre 2001 e 2007. Já de 2013 a 2015, a chegada foi na cidade catarinense de Itajaí. Após dez anos, a capital baiana volta a ser, pela quinta vez, o destino final da competição, que tem o apoio da Secretaria do Turismo da Bahia (Setur).
A regata dá visibilidade internacional à Baía de Todos-os-Santos e traz a Salvador velejadores, familiares, dezenas de jornalistas e público de vários países. O ponto de chegada é a rampa do Mercado Modelo.
Repórter: Eduardo Bastos