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sábado, outubro 18, 2025
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MASP apresenta seminário gratuito ‘Van Gogh delirante’

Encontro com especialistas discute a obra de Van Gogh e é o primeiro evento aberto ao público sobre o ciclo curatorial de Histórias da loucura, previsto para 2027

MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand promove, em 22 de outubro, o seminário Van Gogh delirante. Com transmissão online e gratuita, o encontro reúne pesquisadores, historiadores e curadores internacionais para debater a relação entre “loucura”, delírio e a produção artística de Vincent van Gogh (1853-1890). É o primeiro evento de uma programação preparatória para o tema curatorial Histórias da loucura e a exposição dedicada ao artista, previstos para 2027. A organização do seminário é de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Fernando Oliva, curador, MASP, com assistência de Isabela Ferreira Loures, assistente curatorial, MASP. A coordenação é realizada por Glaucea Helena de Britto, curadora assistente, MASP.

Martin Bailey, biógrafo de Van Gogh, é um dos destaques do seminário, que reúne especialistas que investigam como concepções históricas de loucura influenciaram a associação entre transtornos mentais e imaginação artística, resultando na ideia de “gênio artístico”. A obra de Van Gogh é emblemática por trazer uma complexa relação entre arte, cultura e saúde mental. O seminário propõe uma reflexão sobre o mito do “gênio louco” que acompanha o pintor pós-impressionista, associando a singularidade e a originalidade de sua produção ao seu estado psíquico.

“A proposta do seminário é ampliar a compreensão sobre a relação entre a “loucura” e a produção de Van Gogh para além dos estereótipos. Também é uma oportunidade para o público participar de discussões que serão fundamentais para adensar ideias e conceitos que serão trabalhados no ano de Histórias da loucura, e, principalmente, na exposição dedicada ao pintor pós-impressionista”, afirma Fernando Oliva.

O acervo do MASP possui quatro importantes pinturas do artista, realizadas em seus últimos anos de vida. Três delas foram elaboradas durante a internação do artista no asilo de Saint-Rémy: Passeio ao crepúsculo (1889-90), Banco de pedra no asilo de Saint-Rémy (1889) e A arlesiana (1890). O escolar (O filho do carteiro-Gamin au Képi) (1888) foi pintado em Arles, um ano antes de sua internação. Esses trabalhos pertencem ao período mais produtivo de Van Gogh, quando suas pinceladas intensas e cores vibrantes se tornaram ainda mais marcantes, ao mesmo tempo em que suas crises de saúde mental ficavam mais frequentes e severas.

Os convidados para o encontro são de diferentes instituições internacionais e abordam aspectos diversos a respeito da vida e obra de Van Gogh: Allison Perelman, da Universidade de Washington, Estados Unidos, foi curadora da exposição Van Gogh’s Bedrooms (2016), no Art Institute of Chicago; Felipe Martinez, da Universidade de Leiden, Holanda, é autor de O Escolar, de Vincent van Gogh e tradutor de Cartas a Theo; Laura Prins, da Universidade de Utrecht, Holanda, foi pesquisadora do projeto On the Verge of Insanity: Van Gogh and His Illness, no Museu Van Gogh; Martin Bailey é biógrafo e colunista do The Art Newspaper, Inglaterra; Renske Cohen Tervaert, é curadora do Kröller-Müller Museum, Países Baixos e apresenta sua pesquisa feita em conjunto com Benno Tempel, diretor do mesmo museu; e Simon Kelly é curador do Saint Louis Art Museum, nos Estados Unidos.

O seminário será transmitido ao vivo pelo canal do MASP no YouTube, com tradução simultânea para português e inglês, além de interpretação em Libras. Para receber o certificado de participação, é necessário assinar a lista de presença que será disponibilizada por meio de um link durante o seminário.

PROGRAMAÇÃO

22.10

Quarta-feira

 

11h-11h10

Introdução

Fernando Oliva, curador, MASP

 

11h10 – 13h

Mesa-redonda

Mediação: Fernando Oliva, curador, MASP

 

Os riscos de ser artista: Vincent van Gogh e a ideia do gênio louco no século 19

Laura Prince

Após o chocante incidente da mutilação de sua orelha, Van Gogh acreditava que provavelmente havia sofrido “um simples ataque de loucura de artista” – isso era apenas um aspecto da profissão. No século 19, era comum a crença de que gênio e loucura estavam relacionados. Porém, o significado exato desse relacionamento variava. Os médicos clínicos (os psiquiatras avant la lettre) quiseram investigar a natureza do gênio e buscaram determinar se ele poderia ser associado a doenças mentais; qual seria o papel da imaginação e se existiria mesmo uma relação direta de causa e efeito entre criatividade e saúde mental. Os artistas, por outro lado, que se esforçavam para se tornarem gênios, perguntavam-se o quanto deveriam sofrer por sua arte e como poderiam lidar com as pressões de seu trabalho. Esta apresentação irá explorar como o próprio Van Gogh percebia suas dificuldades entre trabalho e bem-estar e como lidava com elas, em comparação com as ideias de sua época sobre a suposta relação entre gênio e loucura.

Laura Prins é professora de História da Arte na Universidade de Utrecht e obteve seu doutorado com uma tese sobre a história da relação entre criatividade e doença mental (Amsterdam UMC). Em 2015 e 2016, foi pesquisadora do projeto On the Verge of Insanity: Van Gogh and His Illness no Museu Van Gogh. Prins publica de forma regular textos sobre Van Gogh, arte do século 19 e interseções da arte com a medicina.

O olho da mente: a série Reminiscência de Brabante de Van Gogh

Allison Perelman

Entre março e abril de 1890, Vincent van Gogh pintou três telas que intitulou Reminiscência de Brabante (Museu Van Gogh, Amsterdã; Fundação Barnes, Filadélfia; coleção particular). Elaborada a partir da sua imaginação e memórias de juventude, essa série marcou o auge de um debate de anos travado entre o artista e seus pares sobre a questão da pintura “de tête” (“de cabeça”), em oposição à observação direta. Tendo defendido de maneira apaixonada ambos os lados e experimentado com ambas as técnicas, com tais obras Van Gogh finalmente obteve uma interpretação satisfatória em termos pessoais dessa preocupação vanguardista, ao evocar um local que ele associava ao conforto e à estabilidade. De modo notável, essa realização seguiu-se imediatamente ao seu mais prolongado episódio de saúde mental – como ele afirmou, “enquanto a minha doença estava em seu pior momento” –, e a série atesta sua confiança renovada e sua experimentação criativa permanente. Reminiscência de Brabante demonstra os esforços de Van Gogh para tomar a si mesmo como modelo com relação à sua identidade artística, à sua identidade nacional e à sua identidade social como um indivíduo capaz e saudável.

Allison Perelman concluiu sua tese “Private Space, Public Self: Studios of the Avant-Garde in Fin-de-Siècle France” [Espaço privado, eu público: estúdios da vanguarda na França do Fin-de-Siècle] e obteve seu doutorado pela Universidade de Washington em St. Louis em maio de 2025. Antes de seus estudos de pós-graduação, Perelman atuou como pesquisadora associada especializada em exposições do século 19 no Departamento de Pintura e Escultura da Europa no Art Institute of Chicago, incluindo Van Gogh’s Bedrooms (2016) e Gauguin: Artist as Alchemist (2017).

O Último Doutor de Van Gogh

Simão Kelly

Esta fala enfoca a relação entre Vincent van Gogh e seu último médico, Paul Gachet, que o tratou nos últimos dois meses de sua vida, em Auvers. Analisa o histórico do médico no tratamento de doenças mentais e nas publicações sobre a melancolia, além de situar sua abordagem de tratamento no contexto das atitudes mais gerais em relação às doenças mentais no final do século XIX. Como a formação de Gachet fundamentou o tratamento oferecido a Van Gogh, e o que nós sabemos sobre seus diagnósticos e prescrições para Van Gogh? Gachet pode ser, de alguma maneira, considerado responsável pelo suicídio de Van Gogh? A apresentação examina os repetidos encontros ou sessões entre os dois homens e reflete sobre as imagens feitas por Van Gogh do doutor Gachet, da filha de Gachet, Marguerite, bem como da casa e do jardim do médico. A fala é baseada em pesquisas sobre os artigos de Gachet, mantidos no Instituto Wildenstein Plattner.

Simon Kelly é curador e chefe do Departamento de Arte Moderna e Contemporânea do Saint Louis Art Museum. Ele escreveu extensivamente sobre arte francesa do século 19 e início do século 20, em particular sobre a pintura impressionista e da escola de Barbizon. É autor ou coautor de vários catálogos de exposições, incluindo Millet and Modern Art: From Van Gogh to Dalí; Degas, Impressionism and the Paris Millinery Trade; e Impressionist France: Visions of Nation from Le Gray to Monet.

13h—14h30

Intervalo

14h30—16h

Mesa-redonda

Mediação: Laura Cosendey, curadora assistente, MASP

Van Gogh: Forças invisíveis visualizadas

Renske Cohen Tervaert e Benno Tempel

As reflexões apresentadas nessa fala terão como foco a técnica de pintura de Vincent van Gogh de maneira relacionada ao clima típico da Provença. Condições meteorológicas como o intenso calor do verão e o mistral (um vento catabático frio e seco, que sopra na direção norte-noroeste no vale do rio Ródano e nas regiões costeiras do sudeste de França) têm efeitos profundos no bem-estar das pessoas que vivem nessa região. Em suas cartas, Van Gogh menciona o efeito dessas condições sobre seu humor e como elas são um desafio para ele, um pintor de ambientes externos. No entanto, sua obra evidencia o fato de que ele utiliza artisticamente as forças naturais em benefício próprio. As linhas e cores delirantes que foram relacionadas à sua loucura podem ser interpretadas como a visualização dessas forças invisíveis, como vibrações no ar, turbulência etc.

Renske Cohen Tervaert é curadora do Kröller-Müller Museum, em Otterlo, Países Baixos. É mestre em História da Arte pela Universidade de Amsterdã. Especializou-se nas artes visuais do final do século 19 e início do século 20, com interesse específico em Vincent van Gogh, na história do colecionismo e no mercado de arte internacional.

Benno Tempel é diretor do Kröller-Müller Museum, em Otterlo, Países Baixos. Entre 2009 e 2023, foi diretor do Kunstmuseum Den Haag, que inclui o Hague Museum of Photography e o KM21, um museu de arte contemporânea. Em 2019, foi curador do Pavilhão Holandês da Bienal de Veneza. Iniciou sua carreira como curador assistente (1997-2000) no Museu Van Gogh, em Amsterdã, e retornou no período 2006-2008 como curador de exposições.

Van Gogh sem asilo

Martin Bailey

Como era a vida de Van Gogh no asilo de Saint-Paul-de-Mausole – e que impacto isso teve em sua arte? Um registo pouco estudado de internados do século 19 oferece uma visão única sobre seus “companheiros de infortúnio”, como ele coloca. E que efeito tiveram seu ambiente e seu estado mental sobre sua arte? Durante cerca de um terço do seu período de internamento, ele estava se recuperando de graves crises mentais. Em outro terço, fez versões pintadas de gravuras de outros artistas e, depois, suas “memórias do Norte”. Porém, no restante deste período, ele finalizou algumas de suas melhores paisagens, juntamente com naturezas-mortas e retratos. Como a arte que produziu durante aquele ano se compara com o que veio antes e com o que veio depois?

Martin Bailey vive em Londres e é autor de Starry Night: Van Gogh at the Asylum (2018). Também escreveu outros livros sobre o período em que o artista viveu em Arles e Auvers-sur-Oise, assim como um livro sobre os Girassóis e outras publicações. Bailey mantém um blog semanal com base em novas pesquisas sobre Van Gogh no The Art Newspaper. Foi curador de exposições na Barbican Art Gallery de Londres (1992), na Compton Verney/National Gallery of Scotland (2006) e no Tate Britain (2019).

16h00 – 17h30

Mesa-redonda

Mediação: Isabela Ferreira Loures, assistente curatorial, MASP

Retratos como aparições: crise e lucidez em Arles e Saint-Rémy

Felipe Martínez

Tendo como base trechos das cartas de Van Gogh e duas de suas pinturas presentes no acervo do MASP, O escolar e A arlesiana, a palestra tratará da produção de retratos do pintor durante os anos em que viveu em Arles e Saint-Rémy. Ao longo desse período, o artista enfrentou dificuldades pessoais e problemas de saúde mental. Isso não o impediu, contudo, de produzir retratos que, como escreveu em carta à irmã, “um século mais tarde surgissem para as pessoas de então como aparições”. A apresentação mostrará como essas obras combinam intensidade e estrutura, de modo a entender como a produção de retratos de Van Gogh prova que, mesmo nos momentos de crise aguda, o artista seguiu um programa lúcido de construção de uma pintura essencialmente moderna.

Felipe Martinez é doutor em História da Arte pela Unicamp, com pós-doutorado no MAC USP e na Universidade de Amsterdã. Atua como professor na Universidade de Leiden, na Holanda, na pós-graduação da PUC-SP e no MASP, onde ministra cursos regulares há mais de uma década. É autor de O Escolar, de Vincent van Gogh, publicado pela Edusp, e tradutor de Cartas a Theo, publicado pela Editora 34.

SERVIÇO

Seminário Van Gogh delirante

Quarta-feira (22.10)

11h—17h30

ONLINE, transmitido no canal de YouTube do MASP

Gratuito, sem inscrição prévia

Variados

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