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sexta-feira, setembro 26, 2025
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Dia Mundial do Turismo e a agenda brasileira para o setor na COP30

Celebração global acontece às vésperas da COP30, em Belém, e coloca o Brasil no centro do debate sobre turismo e clima

O Dia Mundial do Turismo deste ano terá um significado importante para o Brasil, que sedia a 30ª edição Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) em novembro, em Belém do Pará. Registrando recordes de turistas internacionais e de visitantes em parques nacionais, o país terá a oportunidade de pautar a preservação ambiental, a qualificação do setor, a valorização cultural e o turismo de base comunitária como ferramentas de desenvolvimento econômico.

O evento vai reunir líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil em plena Amazônia, no coração da maior floresta tropical do planeta e símbolo tanto de esperança quanto da urgência climática. É nesse contexto que o turismo será discutido, na agenda do primeiro dia do evento, como atividade com enorme potencial para contribuir com sustentabilidade econômica, social e ambiental.

“A COP30 é a nossa chance de transformar definitivamente o setor, garantindo que ele seja um pilar de crescimento econômico de forma sustentável. Não podemos perder essa oportunidade”, afirmou no dia 18 de setembro o Ministro do Turismo, Celso Sabino, em carta aberta que conclama a cooperação da ONU Turismo para a ampliar a representatividade dos países-membros no evento.

A pasta federal vem realizando ações nesse sentido, como o evento “Diálogos para COP30”, realizado no dia 19 de setembro em Santarém, no Pará, para discutir como programas federais podem fortalecer destinos turísticos, preservar a cultura local e preparar o Brasil para a conferência.

Turismo como pauta estratégica

Apesar das ações, especialistas demonstram preocupação com o nível de preparação do governo federal para o debate. No início do mês, durante a palestra que abriu Abeta Summit 2025, o maior congresso de ecoturismo e turismo de aventura do país, a pesquisadora do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade e doutoranda no Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília Jaqueline Gil levantou importantes questões sobre o papel do país no atual momento.

“A influência e a experiência do Brasil poderão acelerar as tratativas de integração das políticas de turismo às climáticas. Definir as diretrizes para a adaptação do turismo às prescrições climáticas, às metas, aos indicativos de governabilidade e, principalmente, o acesso a recursos financeiros, científicos e tecnológicos, pode estar em jogo. Para isso, no entanto, é necessário uma estratégia e um plano de ação liderados pelo governo, em parceria com a ONU e com apoio das lideranças da sociedade civil e da academia, do Brasil e dos principais negociadores climáticos e representantes setoriais”, afirma Gil.

A pesquisadora, que estará presente na COP30, participou do primeiro dia dedicado ao Turismo na história do congresso mundial, realizado durante a COP29 em Baku, no Azerbaijão, no ano passado. Ela foi convidada pela ONU Turismo.

Naquele evento, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apresentou a segunda Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês) do país, em que a nação inclui a obrigatoriedade do turismo de construir planos de mitigação e adaptação para cumprir as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. O Brasil indicou que reduzirá entre 59% e 67% suas emissões até 2035 – e o setor entra nesta conta.

Sustentabilidade

Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), a previsão é que a área movimente US$167,6 bilhões no Brasil em 2025, o equivalente a 7,7% do PIB nacional, sustentando 8,2 milhões de empregos. Segundo a estimativa, esse número pode chegar a US$199 bilhões no final da década.

“As pesquisas indicam que há uma demanda crescente de viajantes por práticas sustentáveis, e a busca por experiências que respeitem as culturas locais e contribuam para o bem-estar das populações anfitriãs”, explica o diretor-executivo da Abeta – Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, Luiz Del Vigna. “O momento é chave para planejarmos o turismo brasileiro como referência de impacto positivo, e utilizar a nossa biodiversidade e sua preservação como ativo estratégico para o futuro”.

Ele cita o fortalecimento do turismo comunitário na Amazônia como exemplo. Na Ilha de Marajó, a Fazenda São Jerônimo, associada da Abeta, é um empreendimento familiar que trabalha desde o final dos anos 80 com resgate cultural, agroecologia e recuperação ambiental, e promove experiências únicas de ecoturismo no coração da Amazônia paraense.

Engajada à ideia de ciência cidadã e de ‘conhecer para conservar’, oferece os famosos passeios de búfalo, observação de pássaros e animais, passeios pelo mangue e a valorização do modo de vida marajoara, com a venda de produtos gastronômicos e de artesanato que promovem a valorização, conservação e geração de renda para a população local. A Fazenda é finalista do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 2025, que reconhece iniciativas que fazem do turismo um agente de transformação.

Outro case de sucesso de um associado Abeta na aplicação de práticas sustentáveis é o Parque Ecológico Rio Formoso, em Bonito, Mato Grosso do Sul, que em fevereiro tornou-se o primeiro atrativo turístico do Brasil com o certificado Lixo Zero. Com a ajuda de uma consultoria, treinamento da equipe e implantação da infraestrutura adequada, o empreendimento destina mais de 90% dos resíduos gerados para reutilização, reciclagem ou compostagem, evitando aterros sanitários e incineração.

“A gestão de resíduos deixou de ser um desafio para nós e se tornou uma ferramenta de educação, inclusão e transformação. Essa conquista passou a inspirar outros destinos turísticos pelo Brasil e hoje participamos ativamente de congressos, eventos e seminários sobre turismo sustentável e economia circular”, explica Bruno Leite Miranda, proprietário do Parque.

Del Vigna enxerga a COP30 como uma chance única de mostrar ao mundo que a conservação e o turismo podem caminhar juntos como motores de transformação. “Precisamos ir além da atração de turistas e garantir que cada experiência seja segura, gere impacto positivo, preserve culturas, fortaleça comunidades e deixe um legado real”.

Sobre a Abeta

Criada em 2004, a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta) é uma organização sem fins lucrativos que reúne empresas e profissionais comprometidos com a prática sustentável de atividades ao ar livre. Atualmente, são 116 empresas com sedes em 20 Estados e no Distrito Federal e que fortalecem o mercado de turismo, ecoturismo e turismo de aventura. Dentro do seu escopo de atuação, a Abeta possui um calendário de eventos e projetos, tornando-se referência nacional em capacitação, qualificação e treinamento no segmento. Dentre os destaques quando o assunto são encontros voltados aos profissionais do setor estão o Abeta Conecta e o Abeta Summit, que a cada ano ocorrem em cidades diferentes, como forma de reforçar a riqueza natural do país para o turismo.

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