Ingressos para partidas da Copa do Mundo faltando quinze dias para o início do torneio é coisa rara. Entradas para o Maracanã, raríssimas. Todos os bilhetes para os sete jogos no estádio estão esgotados. A não ser na internet. Nas redes sociais, cambistas se proliferam e cobram preços abusivos por ingressos de diversos jogos. Thiago Abrantes e Silva é um deles. Oferece entradas publicamente em seu perfil pessoal no Facebook. Em sua página também chama atenção outra informação: ele se identifica como funcionário da FERJ, Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, que rege o esporte no estado.
Thiago é funcionário do quadro móvel da Federação. Atua em algumas partidas de campeonatos regidos pela instituição, como fiscal, supervisor, ou até delegado dos jogos, como mostra publicação em seu perfil no último fim de semana, quando foi o representante da FERJ na semifinal do Campeonato Carioca sub-20. Seu nome pode ser encontrado, junto a um carimbo da Federação, em algumas súmulas e borderôs das partidas.
A todo o momento Thiago se orgulha e faz propaganda de novos ingressos chegando, durante os seis dias que a reportagem da ESPN acompanhou o perfil na rede social.
Reportagem tenta comprar ingressos
Dizendo-se interessada em comprar duas entradas para um jogo no Maracanã, a reportagem dos canais ESPN entrou em contato com Thiago. Primeiro pelo Facebook, e depois por telefone, Thiago deu alguns detalhes do negócio. “Tenho alguns aqui. Eu tenho quatro juntos, oitavas de final, se pagar hoje eu faço por um preço maravilhoso. Os quatro por R$ 4.500”, oferece, numa primeira consulta aos preços e disponibilidade de entradas. “Não para um minuto. Por isso que eu te falo, tem que ser rápido. Eu acabei de vender dois ingressos”, afirma, questionado sobre a demanda. Todas as gravações e a reportagem completa você confere na programação desta Quarta dos canais ESPN, a partir das 9h30, no Bate Bola primeira edição.
Thiago diz ter um fornecedor para dois ingressos de jogos no Maracanã, com quem a reportagem teria que encontrar, junto com ele, para fechar a negociação. “Ele ganha R$1400 reais em um ingresso. Eu ganho R$100 em cada ingresso, só que eu vendo quinze ou quatorze por dia. Aí é essa doideira, telefone não para, correndo. Eu tento vender 10 ingressos por dia, pra mim tá bom. Se eu vender 10 ingressos por dia tá ótimo”, explica, garantindo a veracidade dos bilhetes. “Pode ficar tranquila, já vendi mais de vinte”.
A reportagem combinou um encontro para adquirir duas entradas de categoria 2 para Chile x Espanha, pela primeira fase, no Maracanã. O preço cobrado é de R$4mil pelos dois ingressos, um preço quase oito vezes maior do que o oficial, cobrado pela FIFA (R$270). Logo em seguida, a reportagem interrompeu o contato com Thiago, não concluindo a transação. Na tarde seguinte, os mesmos bilhetes são ofertados por ele em um grupo destinado a vendas de ingressos para a Copa no Facebook.
Ajuda para chilenos como desculpa: “Sou contra cambistas”
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Thiago foi representante da FERJ no Carioca Sub-20
Um dia depois, procurado pela reportagem, desta vez identificada como tal, Thiago não nega a contravenção, mas se enrola ao tentar explicar a origem dos ingressos. Por ser casado com uma chilena, primeiro diz que vende para chilenos que desistiram de vir e o procuram para intermediar a negociação, depois fala que são amigos brasileiros que pedem para que ele comercialize suas entradas e por fim, explica que compra com pessoas pela internet e revende depois, ganhando um lucro mínimo. Ele nega qualquer envolvimento da FERJ para negociar as entradas.
“Você pode acreditar ou não, mas não tem nada a ver. Eu não estou tirando vantagem porque trabalho para a FERJ, estou tirando vantagem porque sou casado com uma chilena, isso sim. Que dá para desconfiar, isso eu concordo. Tanto é que é a última vez que eu fiz isso, hoje com dois ingressos que eu vendi. Comprei por R$2900 e vendi por R$3100, eu gasto minha gasolina, eu gasto para buscar, para fazer isso e aquilo, mas eu não cobro quatro, cinco mil no ingresso. Se eu quisesse ganhar dinheiro eu cobrava muito mais caro. Eu ganho, se falar que não é mentira. Pouco, mas ganho. Mas é para ajudar os chilenos que querem vir. Eu só vendi 10 ingressos e todos para o Chile”, afirma, sem saber que já afirmara antes que já vendeu mais de duas dezenas de entradas.
“Sou contra cambistas. Sou flamenguista fanático e sempre comprei meu ingresso. Só depois que trabalhei para a FERJ que eu passei a não pagar porque estava trabalhando. Mas sou completamente contra cambistas, sou sócio torcedor, compro ingresso para o meu filho”, opina.