Desenvolvido pelo Instituto Samaúma a pedido do MDIC e PNUD da ONU, estudo lançado no Acre visa aumentar as políticas públicas para o desenvolvimento do etnoturismo sustentável na região
O Turismo Sustentável é uma das formas de conhecer locais de forma consciente. Quando falamos de Terras Indígenas (TI), principalmente no Brasil, onde elas ocupam mais de 900 mil km², de acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a responsabilidade é ainda maior. Essas expedições sustentáveis estão aumentando e, felizmente, estão beneficiando os povos originários, na geração de renda e na valorização ambiental e cultural.
Visando entender um panorama mais amplo e buscando criar políticas públicas cada vez mais eficientes, o Instituto Samaúma, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da ONU, realizou um estudo de seis meses para aprofundar neste processo. Um dos resultados foi o Guia de Boas Práticas, lançado na última semana durante um evento na Aldeia Shanenawa, dentro da TI Katukina-Kaxinawá, no Acre.
Adentrar em uma área preservada possui grandes responsabilidades e impactos positivos quando feito de forma responsável. Para preservar as características ambientais e, principalmente culturais, grande parte dos guias e facilitadores das expedições são os próprios indígenas, assim como a alimentação, que é a tradicional da área visitada. Manter as coisas como elas são e ensinar ao viajante como se portar e viver a espiritualidade da aldeia, em vez de adaptar as aldeias aos viajantes, é a principal missão, destaca Vari Shanenawa, antropóloga etnográfica.
A antropóloga ressalta que quando um viajante vai para uma aldeia ele busca uma vivência de etnoturismo, mas ao chegar, encontra uma vivência espiritual. “O povo não indígena entende que nós precisamos de terra, mas é muito superior a isso. Precisamos porque necessitamos da floresta, é isso que garante o equilíbrio do planeta. Nós nos entendemos como guardiões da floresta e consagramos as medicinas sagradas na nossa vida”.
Etnoturismo consciente impacta positivamente as aldeias
O turismo nas TIs deve ser de base comunitária, conforme regulamentado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI). Esse modelo de gestão coloca as comunidades como protagonistas das atividades de visitação em seus territórios, promovendo parcerias com agências e operadoras. “É essencial garantir uma divisão justa de benefícios e o respeito ao modo de vida local. A gestão comunitária e a transparência dos acordos com parceiros são fundamentais para o desenvolvimento saudável dos empreendimentos de turismo indígena”, afirma Lana Rosa, mestre em ciências ambientais e conservação e líder de equipe e diagnóstico do Instituto Samaúma.
Essa forma de visitação une o turismo com o respeito pelo local, valorizando os saberes ancestrais e gerando renda aos povos originários a partir de uma atividade sustentável. De acordo com o último Censo, realizado em 2022 pelo IBGE, existem cerca de 1,7 milhões de pessoas que se identificam como indígenas e mais da metade vive na Amazônia Legal – área mapeada pelo estudo.
“O estudo de etnoturismo na Amazônia Legal foi uma oportunidade muito especial para o Instituto Samaúma e inédita para o Brasil. Este edital não representa apenas o reconhecimento de nossa competência, mas também uma oportunidade de fortalecer as práticas de Turismo de Base Comunitária e impulsionar a preservação cultural e ambiental através de políticas públicas abrangentes, esta é a nossa expectativa a partir de agora. Para nós, isso significa nos aproximar ainda mais do turismo em que acreditamos: uma ferramenta poderosa para valorizar as comunidades indígenas e tradicionais, promovendo autonomia, sustentabilidade e valorização cultural. É também uma chance de amplificar as vozes que guardam os saberes ancestrais e de conectar viajantes a uma Amazônia que educa, emociona e transforma. Este projeto é, acima de tudo, sobre ressignificar a nossa relação com o território e construir um futuro mais equilibrado e respeitoso para todos”, afirma Daniel Cabrera, cofundador e diretor-executivo da Vivalá e do Instituto Samaúma.
A união entre as agências que possuem liberação para atuar em Unidades de Conservação e, principalmente nas TIs, são determinantes na manutenção de cultura e de um modo de vida. “A própria aldeia organiza as equipes de trabalhos para acompanhar uma vivência e para mim, esse é o grande benefício. Nós podemos propiciar que os jovens da aldeia possam trabalhar e estudar dentro dela, e nós queremos isso porque fortalece nossa cultura e nossa espiritualidade”, explica Vari.
A sociobioeconomia também é importante na sobrevivência e estilo de vida. O extrativismo, beneficiamento de matérias-primas e produção familiar agroflorestal são atividades econômicas consolidadas que permitem o uso eficiente dos recursos naturais com baixo impacto ambiental e social em áreas protegidas.
Mapeamento foi necessário para entender o cenário
Resultado de um trabalho de seis meses, o Guia integra um projeto que investiga o cenário do etnoturismo na Amazônia Legal, especificamente de cinco estados, sendo o Acre, Amazonas, Pará, Roraima e Mato Grosso, além de identificar as melhores práticas e explorar técnicas de economia de baixo impacto e carbono reduzido que efetivamente envolvam as comunidades tradicionais, especialmente as indígenas.
Foi necessário montar um plano de projeto para destacar etapas e alinhar objetivos. Após, a primeira etapa de materiais produzidos foi o mapeamento, parte essencial e realizada pelos líderes do projeto e que fazem parte do Instituto. Durante a produção, visitas técnicas às aldeias foram realizadas para entender aspectos como, por exemplo, a experiência do usuário. Com as idas às aldeias e com o resultado do diagnóstico, foi possível entender sobre políticas públicas existentes nas esferas federais e estaduais e suas aplicações.
“Para o diagnóstico, optamos por iniciar com extensas fichas de mapeamento dos territórios pré-determinados, onde trabalhamos com 12 categorias e mais de 150 perguntas para 14 empreendimentos de turismo comunitário em 12 Terras Indígenas. O maior desafio foi estabelecer contato com as comunidades para obter anuência na participação do diagnóstico e promover a troca de informações. Muitos dados disponíveis na internet e em outros materiais estão desatualizados, e várias iniciativas de etnoturismo que receberam investimentos e divulgação no passado atualmente não estão mais ativas”, evidencia Lana, líder da equipe.
Lana ainda destaca que o trabalho será um apoio para parceiros e negócios sociais agirem de forma coordenada. “A análise demonstrou que faltam ações coordenadas entre as esferas estaduais e o governo federal. Alguns estados estão investindo no etnoturismo, mas não atendem as demandas de regularização e acompanhamento da FUNAI, o que deixa os territórios e comunidades indígenas vulneráveis aos impactos negativos do turismo. Por outro lado, falta maior conhecimento de direitos indígenas pelos parceiros comerciais, que também se sentem inseguros diante de uma burocracia complexa e demorada para regulamentação dos roteiros”.
O evento de lançamento ocorreu nos dias 03 e 06 de dezembro na TI Katukina Kaxinawá e reuniu membros do governo, lideranças indígenas e de importantes organizações. Durante três dias, os participantes vivenciaram de perto a realidade do turismo amazônico e tiveram uma imersão nas questões locais. O principal objetivo foi discutir sobre as políticas públicas e levá-las adiante para que possam ser desenhadas de acordo com as necessidades das áreas e das pessoas que vivem nelas, pois foi identificado que apesar de existirem, são burocráticas e pouco efetivas, fugindo da realidade indígena.
Ao final, foi produzido um relatório que reúne todos os compromissos estabelecidos e os projetos firmados, como produtos e iniciativas que buscam fomentar o turismo de base comunitária indígena, preservando o ambiente e a cultura a mantendo os centralizados em suas produções, histórias e ações que ocorram dentro das TI.
Para acessar o guia e todos os materiais disponíveis, clique aqui.
Sobre a Vivalá
A Vivalá atua no desenvolvimento do Turismo Sustentável no Brasil, promovendo experiências que buscam ressignificar a relação que as pessoas têm com o Brasil, sua biodiversidade e comunidades tradicionais. Atualmente, a Vivalá opera em 26 unidades de conservação do país, abrangendo os biomas da Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal, atuando em conjunto com mais de 700 pessoas de populações indígenas, ribeirinhas, caiçaras, quilombolas e sertanejas.
Com 16 prêmios e reconhecimentos nacionais e internacionais, a Vivalá conta com a confiança da Organização Mundial do Turismo, ONU Meio Ambiente, Braztoa, Embratur, Abeta, Fundação do Grupo Boticário, Yunus & Youth, além de ter uma operação 100% carbono neutro e ser uma empresa B certificada, com a maior nota no turismo do Brasil e a 7ª maior em todo o setor de turismo no mundo. Até dezembro de 2024, a Vivalá já embarcou mais de 5 mil viajantes, além de ter injetado mais de R$ 5 milhões em economias locais através da compra de serviços de base comunitária e consumo direto dos viajantes. Para mais informações, acesse: https://www.vivala.com.br/.
Em 2023, a Vivalá criou o Instituto Samaúma, com a missão de formar jovens brasileiros de baixa renda para um futuro sustentável, oferecendo acesso gratuito a experiências imersivas nos biomas brasileiros e em parceria com comunidades tradicionais.
Com um plano ambicioso, o Instituto busca alcançar 10 mil crianças contempladas nos próximos 3 anos e está intensificando a divulgação de suas ações e buscando parceiros que compartilhem desse propósito transformador. Organizações e pessoas físicas podem apoiar a causa por meio do site: https://vivala.com.br/