Quem visita Fernando de Noronha tem a experiência única de vivenciar, de perto e de forma intrínseca, a natureza e toda a sua beleza e biodiversidade conservadas dentro e fora da água. É um paraíso protegido por leis federais e estaduais, por meio da criação do Parque Nacional Marinho e da Área de Proteção Ambiental Estadual de Fernando de Noronha. Um lugar de beleza impressionante, com diversos tons de azul, onde você pode visualizar uma grande variedade de aves marinhas, golfinhos, tartarugas, caranguejos, tubarões, peixes, crustáceos e corais. Um orgulho para Pernambuco e para o Brasil.
Ir a Noronha é também uma grande oportunidade de experimentar no dia a dia um caminho para a sustentabilidade, visto que o arquipélago tem compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e Agenda 2030 da ONU, um desafio diário que vem sendo colocado em prática, tanto no turismo como na vida dos moradores. Um esforço coletivo, também, da Administração da ilha com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ONGs, instituições, empresas, comércio e comunidade.
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Foto: Karlilian Magalhães
mo de chegar ao arquipélago, o turista paga uma Taxa de Preservação Ambiental (TPA) por cada dia de permanência, recurso que é revertido para manutenção e preservação dos locais turísticos e ecossistemas naturais, execução de obras e benfeitorias, serviços públicos da ilha (como educação, saúde, infraestrutura, saneamento etc), além de remuneração dos servidores. Ao desembarcar no Aeroporto Carlos Wilson, os visitantes passam por uma abordagem da equipe de Meio Ambiente, que tem o objetivo de impedir que o plástico entre no arquipélago. Trata-se do Programa Noronha Plástico Zero, que proíbe a entrada, comercialização e uso de recipientes e embalagens descartáveis de material plástico ou similares, conforme previsto no Decreto Distrital Nº 002, de 12 de dezembro de 2018.
Desta forma, não podem entrar na ilha garrafas plásticas de bebidas com capacidade inferior a 500 ml; canudos, copos, pratos e talheres plásticos descartáveis; sacolas plásticas; embalagens e recipientes descartáveis de poliestireno expandido (EPS) e o poliestireno extrudado (XPS), popularmente conhecidos como isopor, e destinados ao acondicionamento de alimentos e bebidas, bem como demais produtos descartáveis compostos por polietilenos, polipropilenos e/ou similares. Inclusive, os mercados de Noronha não disponibilizam sacolas plásticas para clientes, portanto, quando viajar para a ilha, leve uma ecobag para caso precise ir ao mercado comprar suprimentos. O intuito dessas ações é prevenir e reduzir significativamente a poluição marinha de todos os tipos, especialmente a advinda de atividades terrestres, incluindo detritos marinhos e a poluição por nutrientes, uma das metas previstas no ODS 14, que corresponde à Vida Marinha.
“Fernando de Noronha tem o Título de Patrimônio Natural Mundial, principalmente pela importância do arquipélago para a vida marinha. É de extrema importância que a gente consiga desenvolver políticas públicas que ajudem a manter esse ecossistema natural de Noronha. Segundo dados da ONU, até 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. É um dado alarmante. Levando em consideração a sensibilidade do ecossistema do arquipélago, a gente se sente na obrigação e no dever enquanto poder público de adotar medidas que possam contribuir para que esse dado tão alarmante não se concretize. Então, quando o turista chega na ilha, a gente procura conscientizá-lo desde a sua chegada com a abordagem do Noronha Plástico Zero para a redução de consumo e geração de resíduo na ilha e, posteriormente, para que o turista possa ter a sensibilidade para com as questões ambientais do arquipélago”, destacou o gerente de Meio Ambiente de Fernando de Noronha, Ramon Abelenda.
Foto: Antônio Melcop
Ainda segundo o gerente, a Administração da ilha também vem buscando implementar outros tipos de práticas e programas, como reflorestamento e pesca sustentável, para que possam manter o paraíso conservado.
Existe um projeto de expansão da energia solar na ilha, com criação de usinas, algumas já em funcionamento, a exemplo da Usina de Resíduos Sólidos. O Hotel de Trânsito, Hospital São Lucas, Palácio São Miguel, Pier do Porto e Escritórios de Educação Ambiental também recebem energia solar. Placas solares também são usadas em parte dos eco postos (locais onde os carros elétricos são abastecidos), bem como na iluminação dos morros do Pico, do Meio e Espinhaço.
Foto: Antônio Melcop
Ainda quanto à redução da emissão do carbono, Noronha também possui um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, que contempla ações de educação ambiental, para a implementação da coleta seletiva, distribuição de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), compostagem, definição de calendário especial para coleta domiciliar, distribuição de contentores de resíduos e realização de oficinas de coleta seletiva e compostagem para a população local.
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A maior parte de resíduos sólidos urbanos de Noronha é transportada por via marítima ao continente, tendo como destino um aterro sanitário e recicladoras de resíduos. Porém, a ilha possui uma Usina de Tratamento de Resíduos Sólidos (UTRS), a qual recebe, segrega por categoria, trata e armazena, temporariamente, todos os resíduos produzidos na região. Dos recicláveis, todo o vidro é triturado – por meio de uma máquina doada pelo Grupo Heineken, em parceria com a Iônica e a Menos 1 Lixo – e armazenado temporariamente para uso em substituição a areia na construção civil na ilha, o que, além de contribuir para a conservação do meio ambiente, também ajuda moradores que não têm condições financeiras de arcar com os altos custos de importação desse tipo de areia do continente. Já os resíduos orgânicos passam por processo de compostagem e o produto, o composto, é destinado para hortas e jardins.
Há também uma parceria com a empresa ASA, fabricante de produtos de limpeza, para coleta, transporte e reaproveitamento de óleo de cozinha, oriundos de restaurantes e pousadas de Noronha, para produção de sabão em barra, no qual os recursos referentes a este insumo são doados a um hospital no Recife, o Imip, que é responsável por parte do atendimento dos ilhéus quando estão em tratamento de saúde no continente.
Entre as novidades para um futuro próximo, está a instalação do primeiro laboratório de economia circular do Brasil. Baseada na inteligência regenerativa e cíclica da natureza, na qual não existe a ideia de resíduo e tudo serve de nutriente para um novo ciclo, a economia circular pode minimizar de forma considerável o impacto das ações humanas no meio ambiente. Numa parceria inédita com a Ball, empresa líder mundial de embalagens sustentáveis de alumínio, Fernando de Noronha está construindo o 1º Laboratório de Economia Circular do país. O “Lab Noronha pelo Planeta” terá 400 m² e servirá tanto como um espaço multiuso para cursos, capacitações, palestras, shows, teatro e exposições que abordem temáticas socioambientais, como para base de pesquisas de novas tecnologias de transição para uma economia sustentável e de baixo carbono e também como ponto de coleta e pré-processamento de latas usadas recolhidas na ilha. A expectativa é que o laboratório consiga reciclar 50 toneladas de alumínio no primeiro ano, lembrando que a reciclagem de lata de alumínio contribui para o fortalecimento da política de gerenciamento de resíduos sólidos e para a redução das emissões de gases do efeito estufa no planeta.
Outra experiência diferenciada no contexto ambiental em Noronha é que 65% da água que chega nas torneiras das casas, pousadas e estabelecimentos é dessalinizada. A água que vem do mar passa por um processo moderno de dessalinização implantado na Compesa. Noronha também possui um chafariz, localizado na Vila do Trinta, com água que vem das rochas fissurais e passa por processo de dessalinização e tratamento para consumo. Um garrafão de 20 litros custa R$ 3,05, custo abaixo da média da maioria de outros lugares no continente. As fichas para o abastecimento são vendidas na loja da Compesa.
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O arquipélago também possui projetos e ações de incentivo à agricultura familiar e reflorestamento. A Administração de Fernando de Noronha possui uma cooperação técnica com o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). O IPA se instalou na ilha, disponibilizando técnicos, entre assistentes sociais, pesquisadores, engenheiros agrônomos e de pesca, para atender às principais demandas apresentadas pela comunidade noronhense nos segmentos da pesca, agricultura, criação de animais, segurança alimentar e nutricional e acesso às políticas públicas. Em pouco mais de três anos de atuação, o IPA vem beneficiando agricultores, pescadores e população geral com assistência técnica, extensão rural, visitas, orientações, além de cursos, oficinas, criação de hortas orgânicas, quintais produtivos, feira de orgânicos e aquisição de uma fábrica de gelo para a comunidade pesqueira.
Em Noronha, também existem ONGs e projetos socioambientais que realizam diversas atividades de educação ambiental e palestras interessantes sobre a fauna local, a exemplo do Projeto Golfinho Rotador, Projeto Tamar, Projeto Raias e Tubarões de Noronha, e Projeto Aves de Noronha. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ainda possui um Centro de Visitantes, localizado na Vila do Boldró, onde os turistas podem assistir a palestras, obter informações e tirar dúvidas sobre como agir (o que fazer e o que não fazer) em um Parque Nacional Marinho. O ICMBio também disponibiliza monitores e agentes ambientais em todo o Parque para orientar os visitantes. Informações também podem ser obtidas no site do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (
parnanoronha.com.br ) e no instagram
@icmbionoronha.
Texto: Karlilian Magalhães