A previsão de empresas que operam em dificuldades financeiras tem sido um assunto de particular interesse para muitos acadêmicos, companhias e governos. Esse tipo de pesquisa sobre a previsão de falências com dados da contabilidade, é usada por bancos e financistas na avaliação de riscos e concessão de crédito.
Em um momento econômico como o que estamos, com os efeitos da covid-19 nas empresas, é natural uma preocupação com aumento do risco de falência e avalição da saúde financeira das empresas.
Algumas companhias têm sua saúde financeira com uma correlação inversa à crise, significa dizer que a situação da economia piora, mas essas empresas melhoram na saúde financeira. Outras têm uma relação direta com a crise, apresentando uma piora na saúde financeira.
Estudos recentes empregaram diferentes técnicas para estimar a falência. Uma das técnicas mais tradicionais para prever a falência é o a fórmula do Z-score, que foi publicada em 1968 pelo Dr. Edward I. Altman, que era, na época, professor assistente de finanças na Universidade de Nova York. A fórmula pode ser usada para prever a probabilidade de uma empresa declarar falência nos próximos dois anos. O Z-score é usado para prever inadimplências corporativas, além de ser uma medida de controle que fácil de calcular e definir status de dificuldades financeiras das empresas.
O Z-score é uma combinação linear de quatro ou cinco índices financeiros, ponderados por coeficientes, que foram estimados identificando um conjunto de empresas que haviam declarado falência e, em seguida, coletando uma amostra correspondente de empresas que sobreviveram, com correspondência por setor e tamanho. As variáveis no modelo consideram indicadores de atividade, de equilíbrio financeiro, de rentabilidade e risco.
X5 = Vendas / Ativo total.
Z < 1.80 – Zona perigosa – Alto risco de falência.
A empresas selecionadas para estudo são as empresas do setor de transportes listadas na B3 S.A. (Brasil, Bolsa, Balcão), a coleta dos dados aconteceu na base do S&P Capital IQ e os dados de empregos foram coletados no site da Ministério do Trabalho. O período de coleta das informações das empresas foram os balanços trimestrais de dez 2017 até dez 2020 (até o término desse trabalho algumas empresas ainda não haviam publicado os balanços de dez 2020, nestes casos foram considerados até set 2020). Os dados da geração de empregos foram os resultados mensais do ano de 2020 informados pelo Ministério do Trabalho no CAGED.
Esse segmento parece não ter seu risco de falência aumentado com o covid-19, ele não apresenta ótimos números, e de acordo com modelo de previsão de falência, as empresas listadas (Trevisa Investimentos – LUXM4; Santos Brasil – STPB3) estão em uma zona cinzenta e perigosa de falência, mas essa condição não foi agravada nos períodos da pandemia. Um fato importante a ser observado é que seguimento tem apenas duas empresas listadas na bolsa, nelas é possível perceber uma melhora nos indicadores a partir de março 2020, mostrando uma possível correlação negativa com a crise sanitária.
O setor de concessionárias de rodovias, assim como o seguimento de portos, não apresenta números positivos do seu Z-Score, todas as três empresas listadas (Grupo CCR – CCRO3; EcoRodovias – ECOR3; Triunfo – TPIS3) podem ser classificas na zona de risco de falência, mas, novamente, a pandemia não afetou os números das empresas, elas mantiveram uma constância nos resultados após março de 2020.
A constância no indicador de falências também é constatada no segmento de transporte de cargas, ao menos em 3 empresas das 5 listadas. O resultado da Tegma Gestão Logística (TGMA3) mostra que empresa teve uma piora durante o segundo trimestre de 2020, mas voltou a ter melhoras nos próximos períodos. A empresa JSL (JSLG3) teve um movimento de melhora no indicador similar ao da Tegma.
Interessante também notar a diferença expressiva nos indicadores da Tegma com as outras empresas do mesmo segmento, ela está classificada como empresa com boa capacidade financeira, enquanto as outras tem um alto risco de falência, que também não foram alterados pela crise. Entre as outras empresas do setor listadas na bolsa temos a Rumo Logística (RAIL3), Log-In Logística Intermodal (LOGN3); e Cosan Log (RLOG3).
O gráfico do segmento Aéreo é muito diferente dos gráficos dos outros segmentos, as empresas sentiram e pioraram muito com os efeitos da pandemia, com aumentos significativos nos riscos de falência. Uma observação importante da amostra é que apenas a Gol (GOLL4) e a Azul (AZUL4) estão listadas na B3, as empresas LATAM e Avianca são listadas em bolsas norte americanas, mas foram consideradas nas análises, pois são empresas que também operam no Brasil.
As empresas até dezembro de 2019 não apresentavam bons indicadores de Z-Score, todas já apresentavam um alto risco de falência, risco esse que, após março de 2020 e setembro de 2020, foi muito mais agravado no índice.
O indicador mostra a realidade econômica que essas empresas viveram em 2020, com voos internacionais totalmente suspensos e voos domésticos reduzidos em uma proporção absurda. Este fato reduz drasticamente a receita das companhias, mas seus custos e principalmente as despesas não reduzem no mesmo tempo e proporção, aumentando muito o risco de falência, uma vez que essas empresas têm grandes financiamentos, sendo a maioria deles em moeda estrangeira (que também sofreu muito com a desvalorização do REAL). A lucratividade que das empresas não é deve nem ser considerada, mas sim a capacidade de geração de caixa.
O CAGED não apresenta os dados de empregos detalhados apenas para o setor de transportes, ele consolida as informações com os segmentos: Transporte, armazenagem e correio. É interessante notar a curva do gráfico no mês de março e principalmente no mês de abril de 2020 (ápice de informações da pandemia), causando uma redução de mais de 100.000 postos de trabalhos no setor, se considerarmos os resultados até julho do mesmo ano. Após esse período a geração de empregos no setor parece estar melhorando, considerando os bons resultados de setembro, outubro e novembro de 2020, mas no ano, o setor acumulou uma perda de mais de 50 mil postos de trabalhos.
Murillo Torelli Pinto é professor de Contabilidade Financeira e Tributária da Universidade Presbiteriana Mackenzie.