Fundador da operadora de viagens CVC, o curitibano Guilherme Paulus se tornou o rei do turismo no Brasil ao antecipar a explosão de consumo da classe média emergente, na última década. Criada em 1972, a empresa ascendeu à posição de maior agência do setor da América Latina, a partir da virada dos anos 2000, apostando nas viagens domésticas, enquanto as suas concorrentes faliam com a falta de passageiros para o turismo internacional, afugentados pela alta do dólar. Como se não bastasse, Paulus ainda assumiu o controle da empresa aérea Webjet, em 2007. Paradoxalmente, construído seu império, ele começou a se distanciar desses negócios.
Primeiro, negociou o controle da CVC, em 2009, com o fundo de investimentos americano Carlyle, que pagou R$ 700 milhões por 63,6% do capital. Dois anos depois, foi a vez de vender, por R$ 70 milhões, a Webjet para a Gol, que a extinguiu no fim de 2012. Mas as férias de Paulus estão chegando ao fim. Com a demissão de Francisco da Rocha Campos, conhecido como Xiko, da presidência da CVC, anunciada no dia 7 de fevereiro, Paulus assume o posto de forma interina, acumulando-o com a presidência do conselho de administração. Seu desafio será trazer de volta à empresa o lustro que exibia até o primeiro semestre do ano passado.
Com três milhões de clientes que passam pelos guichês de suas lojas a cada ano, gerando 12% das receitas do mercado de turismo de lazer do Brasil, a CVC era a pérola do setor. A operadora, no entanto, não decolou como imaginavam seus novos controladores americanos, em 2012. A decepção com os resultados teria sido o motivo principal para o afastamento de Xiko. “A decisão de deixar a CVC foi do próprio executivo”, respondeu o Carlyle, por e-mail, à DINHEIRO. “Os números de 2012 ainda estão sendo finalizados, mas podemos dizer que estão condizentes com o cenário macroeconômico do ano passado.” De fato, em 2012, a economia brasileira começou com previsão de crescimento de 4% e terminou na casa de 1%.
No caso da CVC, o plano era aumentar as vendas em mais de 10%. Ficou em 5%, segundo estimativas de analistas. Parte da responsabilidade pelo mau resultado pode ser creditada ao aumento da concorrência vinda da internet, tanto por meio de empresas como Decolar.com e Hotel Urbano, quanto da opção de mais pessoas fazerem as próprias reservas online de passagens e hotéis. “A CVC ganhou muitos novos concorrentes em um ambiente no qual não tem tradição”, afirma Mario Petrocchi, sócio da consultoria Petrocchi especializada em turismo. “Afinal, seu negócio sempre foi mais focado nas agências.” Nesse cenário, sobrou para a Paulus missão de restabelecer o ritmo de expansão da CVC.
“Ele é um craque”, diz Edmar Bull, presidente da Abracorp, que representa as agências de turismo corporativo.“Já passou por todas as crises do setor, nas últimas décadas, e superou todas elas.” Fontes próximas a Paulus confirmam que a CVC contará com essa experiência apenas até a contratação de um novo CEO no mercado. “O próximo presidente da CVC será um novo nome, virá do mercado e tem grande experiência com varejo e bens de consumo”, informou o Carlyle. Um dos cotados é Luiz Eduardo Falco, que foi presidente da empresa de telefonia Oi e ocupou uma vice-presidência da TAM.
Ao mesmo tempo em que ajuda a CVC a recuperar o fôlego, Paulus se dedicará à estruturação de seu novo negócio, a GJP Hotéis & Resorts. Trata-se de uma empresa de porte bem menor, com faturamento abaixo dos R$ 100 milhões, que vem se especializando em abocanhar concessões para empreendimentos hoteleiros em aeroportos. Das quatro licitações realizadas pela Infraero, Paulus venceu três, para os aeroportos de Confins, em Minas Gerais, e Santos Dumont e Galeão, ambos no Rio de Janeiro. Neste ano, ele ainda promete disputar as licitações para os aeroportos de Guarulhos (SP), Salvador e Recife.
Fonte: Isto é Dinheiro